domingo, 27 de setembro de 2009

A Folha de São Paulo - 28/10/1994


Raimundos trazem hardcore ao Palace

A banda apresenta seu disco, que já vendeu 50 mil cópias desde maio, temperando som pesado com forró


Show: Raimundos, com abertura da banda Little Quail and The Mad Birds
Onde: Palace (av. dos Jamaris, 213, tel. 011/531-4900, Moema)
Quando: amanhã, às 22h, e domingo, às 20h
Quanto: R$ 15 (pista) e R$ 30 (camarote)


O rock pauleira temperado a forró dos Raimundos chega a São Paulo neste final de semana. A banda brasiliense se apresenta amanhã, às 22h, e depois, às 20h, no Palace. A Little Quail and The Mad Birds, também de Brasília, abre a noite com seu rock de garagem influenciado por punk rock e rockabilly. No show, os Raimundos tocam todas as músicas de seu disco, lançado em maio pelo selo Banguela, dos Titãs, incluindo os hits "Puteiro em João Pessoa", "Nêga Jurema" e "Selim". Tocam também as novas composições "Pitando no Kombão", "Esporrei na Manivela" e "Sereia da Pedreira", que entrarão no seu próximo trabalho.

O disco que está no mercado já vendeu por volta de 50 mil cópias, sendo que 85% em CD. Um resultado surpreendente para um conjunto estreante, ainda mais com o perfil underground dos Raimundos. Mas esse sucesso todo no circuito comercial, segundo eles, se deve ao fato de que o "mainstream" acordou para o estilo alternativo. "O tempero do regional ajuda muito também", diz o vocalista Rodolfo, 22. "Quando fizemos show no Nordeste teve gente que foi de uma capital para outra para nos ver." Raimundos é, então, um power trio com um pitada de triângulo em aqui, uma levada de baião ali e o hardcore em primeiro plano.

Forrocore e pauleira

Depois de passar algum tempo classificando didaticamente seu som como um "forrocore" (uma fusão de forró e hardcore), eles decidiram abandonar o estigma. "Esse termo acabou complicando porque criava uma expectativa, as pessoas ficavam achando que a gente iria usar temas de forró e misturar com rock, só que não é isso. O negócio é pauleira mesmo", diz Canisso, 28, baixista.

Utilizando a baixaria, tanto no teor das letras quanto na hora de definir o próprio tipo de som, Digão, 23, guitarrista, explica a tônica dos Raimundos: "A melodia é do rock pauleira, mas as letras, o cântico, é brasileiro." Na base das influências está o som mais pesado, como Dead Kennedys, Suicidal Tendences e Ramones. No tempero, o forró, o baião e o xaxado, com influências, entre outras, do sanfoneiro pernambucano Zenilton, que, segundo Digão, "é o cara mais punk do forró".

Palavrão educativo

O palavrão aparece de uma maneira natural nas nossas músicas", afirma Fred, 22, baterista. 'Não é nada que as pessoas não digam ou não saibam". Além disso, eles acreditam que existe uma função educativa em usar termos como ânus ou vagina, para que as pessoas que por ventura não saibam o que significam tomem conhecimento. É ao mesmo tempo uma ironia, um uso da linguagem chula frequente no coloquial e uma forma de tornar a baixaria educativa, resumem. Quanto ao fato de levar todo esse universo para o Palace, acham que "pode não se tratar propriamente de uma casa de rock, mas quem faz o show é a platéia."



Por Ana Beatriz Brisola.


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Rodrigo Ribeiro entrevista Rodolfo


Hoje eu tive uma longa conversa com o Rodolfo. Ele estava super alegre, falante, e acima de tudo satisfeito com aquela que provavelmente foi a maior e mais difícil decisão da sua vida. Não existe mágoa, briga, nada disso. E quer saber no que a religião teve culpa nisso tudo? "A minha conversão serviu para eu me livrar das drogas, e dessa forma colocar a cabeça no lugar e ter coragem para lutar pelo que eu mais queria na vida, que era ser quem eu realmente sou". Para entender isso, precisamos retroceder ao início da banda. "O Raimundos era o recreio da galera. Existia o Filhos de Menguele (banda do Digão), o Royal Street Flesh (primeira banda do Rodolfo), as duas bandas tinham letras sérias, conscientes. O Raimundos era a hora para tocar cover, não só do Ramones, mas Dead Kennedys, Suicidal... Aí entrou a parada do Zenilton, as letras engraçadas do Tello (amigo dos caras e na época vocalista do Filhos de Menguele), diferente do que ele fazia no Filhos. Só que esse recreio foi crescendo, as outras bandas ficaram para trás. O Raimundos, que era nossa diversão, virou trabalho, e aí chega um dia que perde a graça. Eu não me arrependo de nada do que fiz, absolutamente nada, só acho que chegou um ponto em que não tem mais porque continuar, eu tenho uma vida inteira pela frente, quero fazer algo diferente, quero compor letras que passem uma mensagem positiva para as pessoas. Você tem aí bandas como o Natiruts, o pessoal do Rap, tinha o Câmbio Negro, agora só o X (ex-vocalista do Câmbio Negro). São letras que tem uma mensagem, não são baboseira. O microfone é uma das armas mais poderosas que tem, e eu nunca o usei para passar uma mensagem consciente para o meu público. Eu vejo músicas como por exemplo o "Reggae do Maneiro", eu fico pensando como uma música dessas toma uma proporção tão grande. Um puta espaço que, ao invés de transmitir uma mensagem, fala que "não tem papel pra cagá". É ridículo!". Não é nossa intenção "jogar a culpa" em ninguém, apenas esclarecendo os fatos para quem está lendo o texto: a música "Reggae do Maneiro" foi uma brincadeira gravada pela banda na época do álbum "Lapadas do Povo", que sequer entrou neste álbum, lançada posteriormente como Single apenas. Ela também não estava revista para entrar no álbum "MTV Ao Vivo", no dia das gravações, em Curitiba, surgiu a idéia de fazer esta gravação com alguns integrantes do Fã Clube da banda, que estavam na cidade por causa das gravações - alguns tinham saído de outros estados para assistir os shows. Foi uma forma de presentear o Fã Clube, e a música foi escolhida porque com certeza não entraria no show, já que eles sequer a tocavam e talvez fosse a que tinha um melhor clima para a ocasião, visto que seria constrangedor tocar uma hardcore, por exemplo, sem público, apenas para 15 fãs. O fato é que a música foi a terceira de trabalho do álbum, não podemos dizer exatamente quais os critérios para a escolha mas sabemos que o Rodolfo não estava de acordo, tanto é que não quis gravar um clipe para a música e a MTV resolveu, então, aproveitando o sucesso da música nas rádios, colocar as gravações da música como um clipe - uma espécie de "improviso". E sobre o seu relacionamento com os outros membros da banda: "acredito que isso tudo que esteja acontecendo só vai servir para nos aproximarmos mais ainda. Somos amigos, não tem mágoa. Outro dia falei com o Fred no telefone, hoje o Digão me ligou só para perguntar como eu estava. Isso nunca tinha acontecido. Eu fiquei feliz pacas! Dizer que existiam desentendimentos é normal, em qualquer banda existe, mas nada disso tem a ver com a minha saída. Durante esses últimos meses o Raimundos se tornou um trabalho, a gente só se falava no palco, fora dele era cada um pro seu canto... Pô, Raimundos era uma banda de amigos!".
Questionei então sobre uma mudança na carreira do Raimundos, e o Rodolfo novamente foi direto: "mudar o estilo não dá, a gente mudou de certa forma no "Lapadas do Povo", não o estilo mas fizemos algumas letras mais sérias como "Baile Funky", "Wipe Out" e "Andar na Pedra", e vejam o que aconteceu. Raimundos caiu de produção, menos shows, menos discos, menos músicas de trabalho. Mesmo que eu estivesse satisfeito - isso porque nem tínhamos deixado de ser divertidos, apenas fomos um pouco mais sérios - eu tinha que pensar nos outros da banda, o cara tem que pagar a escola dos filhos, essas coisas. O Raimundos nasceu para ser uma banda divertida, teria que ser assim para sempre. Só que eu sou um ser humano, tenho minhas vontades e não posso viver uma vida inteira fazendo uma coisa que não me agrada, para agradar os outros. Fingir que sou uma coisa que não sou. O que mais acontecia quando eu conhecia pessoas era ouvir "cara, eu imaginava você totalmente diferente", era foda. A minha imagem transmitia uma coisa que eu não era. O Raimundos teve uma carreira brilhante, acabamos no auge, muito melhor do que bandas que acabam na sarjeta. O que eu, Rodolfo, tinha que fazer pela banda, eu fiz. Foram 13 anos no Raimundos, é muito tempo, agora quero partir para outras experiências".

Existe alguma divergência com a gravadora?

"Não existe, mas é aquele negócio, eles sempre falam "é bom ir lá porque vende mais disco, faz mais show". E para quem tem que sustentar família, não tem jeito, não tem como fugir. Eu não tenho nada contra as gravadoras, quando eu tiver o meu trabalho eu vou procurar a que tiver a melhor opção, vou lá no meu contrato e falo "eu não faço isso e isso". Não quero nunca mais fazer play-back na vida, vou nos programas que eu estiver afim, vou na MTV, no programa do Gastão. Não quero mais fazer coisas contra a minha vontade. Se eu não conseguir seguir do meu jeito, eu lanço o meu trabalho, para lançar o CD do Royal (Street Flesh, banda paralela) eu inventei uma gravadora, criei. O Lobão fez isso. Hoje em dia existem outras formas de se lançar, portanto farei da forma que for mais conveniente".

E como você acha que as pessoas, os fãs do Raimundos, receberão você na sua nova carreira?

"Eu sei que muitos fãs do Raimundos adoram nossas letras sérias também, então aguardem, que nada acabou. Ninguém morreu! Não é como o Ramones, que infelizmente o Joey morreu e acabou-se tudo. Aqui são quatro caras, vivos, e cada um vai seguir o seu caminho. Eu não posso falar pelos outros, só por mim, e eu estou muito feliz com a minha nova vida artística que começará agora. Eu tenho já algumas músicas compostas, esse ano ainda estarei lançando material novo. Não sei ainda se montarei uma banda, ou gravarei sozinho (Rodolfo é multi-instrumentista), mas o que importa é que eu vou fazer aquilo que eu quero, não que no Raimundos eu não fizesse mas eram quatro caras, quatro cabeças para decidir as coisas. Se eu quisesse gravar um estilo diferente, precisaria do aval dos outros. Agora não, eu posso gravar o que eu quero, nada contra o estilo do Raimundos, muito pelo contrário, mas se der vontade de fazer algo diferente, esse é o momento. Eu sou roqueiro, sou do hardcore, mas se pintar a vontade de incluir outros ritmos... "Deixa Eu Falar" tem uma letra do caralho, "Mulher de Fases", "Bestinha"... São letras lindas. Eu não quero mais ser pressionado a fazer letras engraçadas ou divertidas. Mas que fique claro, a pressão não vinha de ninguém em específico, mas como já expliquei, vinha do nome "Raimundos". Não pensem que eu vou cantar louvando ao Senhor, ser cantor gospel, não é isso. A minha religião nada tem a ver com a minha decisão, o meu descontentamento, que já vinha de anos. Eu sei separar as coisas". Neste momento eu citei a matéria da revista Capricho, e ele enfatizou que "não mudaram uma vírgula". Então eu questionei se ele não achava que o fato da matéria ter saído na mesma época, não teria agido negativamente, encobrindo o verdadeiro motivo de sua saída da banda, e ele falou: "foi uma coincidência de datas, a entrevista foi feita já tem um tempo, na época do Rock & Gol. Eu ainda estava na banda, tínhamos shows na mesma semana. Tanto que não falo nada de acabar com a banda, muito pelo contrário, falo de planos. Foi tudo uma coincidência, aquela entrevista eu só quis mostrar a minha experiência de vida, dos problemas que tive com as drogas e encontrei a solução em Jesus. Não é vergonha nenhuma para mim falar que Jesus me salvou, muito pelo contrário. Vergonha eu tinha quando lia as minhas entrevistas, quando ouvia a minha música no rádio. Eu desligava. Raimundos era para ser uma banda contra o sistema, hardcore. Não para falar besteira, para ser igual letra de funk e só mudar o ritmo. Raimundos foi uma fase da minha vida, da qual guardarei boas lembranças para sempre, mas agora eu começo uma nova fase. Faz um favor para mim, inclua no texto a letra da música "20 e Poucos Anos". É uma das letras mais "hardcore" que nós gravamos, e exprime exatamente o que estou passando agora".

20 e Poucos Anos - Letra: Fábio Jr.

Você já sabe
Me conhece muito bem
Eu sou capaz de ir e vou
Muito mais além
Do que você imagina
Eu não desisto
Assim tão fácil, meu amor
Das coisas que eu quero fazer
E ainda não fiz
Na vida tudo tem seu preço, seu valor
E eu só quero dessa vida é ser feliz

Eu não abro mão
Nem por você, nem por ninguém
Eu me desfaço dos meus planos
Quero saber bem mais
Que os meus 20 e poucos anos

Tem gente ainda
Me esperando pra contar
As novidades que eu
Já canso de saber
Eu sei também
Tem gente me enganando
Mas que bobagem
Já é tempo de crescer



Aqui encerro o meu texto com um certo alívio por saber que o cara que, na minha opinião, escreve as letras mais legais do rock nacional, continuará na ativa, compondo e escrevendo, neste que será o segundo capítulo de sua vida. E também fico na torcida pelos outros, é claro, pois tenho certeza que Fred, Digão e Canisso têm talento de sobra, e encontrarão também o caminho para continuarem a alegrar os fãs, juntos ou cada um em sua carreira. E é por isso que o"Raimundos" nunca vai se acabar!

Rodrigo Ribeiro
Organizador do Fã Clube Oficial do Raimundos



Postado originalmente no WFC em ??/??/2001




sábado, 12 de setembro de 2009

Raimundos Curiosidades - Parte II




Em 1999, a MTV promoveu o 5º MTV Rock & Gol, um torneio de futebol entre as bandas de rock, os Raimundos não passaram do segundo jogo, clique aqui (sobre outros rock e gols) para obter maiores informações sobre a campanha dos cara neste Rock & Gol.

Digão, no programa H, cantou uma paródia criada em cima da musica Firmamento, do Cidade Negra. Confire esta paródia clicando. Letra da parodia

Paródia

"Que que vou fazer agora
Se o meu pau não quer mais subir?
Estou com as bolas super-doloridas
E dar numa ainda não consegui...

Short, short da Adidas
Comprei na Bi-Ba-Bô*...
Concorrente da Fofi*
A bermuda nos peito
Que cheiro de cocô!".

Bi-Ba-Bô e Fofi são duas lojas de Brasília.

Rodolfo fala 248 palavras em um minuto na música "Véio, Manco e Gordo" (Lapadas do Povo)

A polêmica e tão falada "Selim" surgiu num rolé que a banda dava no Fusca do Canisso na autovia W3 em Brasília. "Um dos melhores programas no Planalto Central é sair no final da tarde pelas pistas livres, dirigindo devagar e fumando maconha", conta Canisso. "A visão era maravilhosa. O sol se pondo e aquelas gostosas andando de bicicleta. Um amigo nosso começou a cantarolar o comecinho e o resto veio rapidinho", lembra Digão. "Tem um vídeo do começo da trajetória dos Raimundos que retrata tudo isso. É meio que um arquivo secreto da banda", anuncia Fred.

Com grana emprestada e um punhado de fitas demo na mão, os Raimundos vieram para São Paulo em meados de 93. As fitas rapidamente foram divulgadas e tal; os mais descolados disputaram a tapa os primeiros exemplares de música raimunda gravada.

A mistura esporrenta de Luiz Gonzaga com Ramones, segundo a banda, é fruto dos genes paraibanos de Rodolfo. "Meus pais são paraíbas e deu para assimilar alguma coisa". Os 2 mil quilômetros que ligam Brasília a Paraíba equivalem proporcionalmente à distância percorrida pelos espermatozóides do saco do meu pai até o óvulo da minha mãe", define o paraibinha

A experiência dos Raimundos em instalações, digamos, estranhas vai desde hotéis mal-assombrados a cabanas praticamente no meio da floresta amazônica. "Durante a gravação do disco, ficamos num hotel em que todo mundo sonhava com fantasmas, assassinato e o diabo. O Otto, percussionista do Mundo Livre, quando passou por lá viu um velho andando do armário até o banheiro durante a noite", diz Canisso. "Em Belém, ficamos numas cabaninhas a uns 15 quilômetros da cidade. Eu fiquei me achando o Tarzã. Era mato para todos os lados, não tinha ninguém, aí eu resolvi sair pelado pela floresta", conta Rodolfo.

Eu e o Rodolfo capotamos o meu extinto Fuscão e depois fomos ao cinema", lembra Canisso. "Eu tava ensinando o Rodolfo a dirigir e entrei no pau numa curva, para mostrar como é. Dei uma rodada animal e capotamos de uns cinco metros de altura. Como saímos ilesos do tombo e tínhamos combinado com o Digão no cinema, fomos para lá", conclui. "Eu tava no cinema vendo o filme quando escuto: "Digão! Tô aqui. Capotei o carro", diz Digão.

A perda total do Fusca e a grana do ferro velho deram origem ao baixo pro Canisso.

Os Raimundos liberam 53 palavrões nos 35 minutos de Lavô tá Novo: tem vários sinônimos para órgãos sexuais, sem contar "ela tá dando" dito 40 vezes.

Um dos fãs mais ilustres dos Raimundos é o surfista australiano Kelly Slater " Um amigo mostrou o CD pra ele ouvir e ele adorou " disse Canisso.

No encarte do álbum Lavô tá Novo, existem aproximadamente 222 agradecimentos para pessoas, famílias, bandas, galeras, etc... Sem contar os agradecimentos individuais de cada integrante do grupo.

No dia 21/11/96, a homepage da Folha de São Paulo, promoveu um chat com os Raimundos para divulgação do trabalho Cesta Básica. O chat ocorreu das 18:30 até às 19:35 (Horário de Brasília), estavam no ar Rodolfo e Canisso conversando com a galera. Clique aqui para baixar o chat.

Antes de receber o nome que recebeu, o álbum Lavô tá Novo, poderia ter recebido outros nomes, como : Lavô tá Limpo, Beleza e Dedo Amarelo!!

Em uma entrevista para MTV, em 09/11/96, a VJ Sabrina perguntou porque que as bandas dos anos 90 só falavam em sexo e mulher. " É o amor " disse Rodolfo, irônico, " Eu acho que a geração dos anos 90 é a geração dos heterossexuais ", disse Digão.

Em 95, os Raimundos, no programa Romance MTV, que homenageia o Dia dos Namorados, eles tocaram uma música lenta dos Ramones pouco conhecida, chamada 7-11.

Quando perguntaram aos Raimundos qual foi o melhor show da turnê de Lavô tá Novo, "Foi em Belo Horizonte", responde Digão. "Eram 12 mil pessoas pulando juntas. Foi lindo", rebate Fred.

Martin Luthero, é considerado o quinto raimundo, fez a letra de Palhas do Coqueiro, de Ui, Ui, Ui, a letra de Minha Cunhada junto com Rodolfo, e a letra de Marujo com Rodolfo também, "Telo", como é chamado, tem uma banda, Filhos de Menguele, do qual Digão já foi baterista e Rodolfo já foi roadie.

Em 95, a MTV promoveu o 1º MTV Rock & Gol, um torneio de futebol entre as bandas de rock, os Raimundos não passaram do primeiro jogo.

Em 96, a MTV promoveu o 2º MTV Rock & Gol, o time dos Raimundos fez bonito, derrotou os times do Ultraje a Rigor, Maskavo Roots, Engenheiros do Hawai, e foi derrotado na final pelo Sr.Banana, devido a grande atuação do goleiro e baterista Lúcio. Confira a campanha : - Raimundos 1 X 0 Ultraje a Rigor - Raimundos 2 X 2 Maskavo Roots (tinha a vantagem do empate) - Raimundos 1 X 1 Engenheiros da Hawai (tinha vantagem do empate) - Raimundos 0 X 2 Sr.Banana (terminou como vice-campeão)


Quando os Raimundos se apresentaram no MTV Vídeo Music Brasil 96, tocando "Eu Quero Ver o Oco" e "I Saw You Saying", a apresentação foi dos pais do vocalista Rodolfo, Seu Manoel e Dona Jacira, "Nós estamos aqui para apresentar o Puteiro", disse Seu Manoel, " Agora com vocês, o nosso filho Rodolfinho", disse Dona Jacira.

Em 07/11/96, a MTV apresentou o primeiro "Luau MTV" do verão, e como no ano anterior, os primeiros convidados foram os Raimundos. Eles estavam ali para falar sobre Cesta Básica e tocar algumas músicas em versão acústica. Mas eles não tocaram nenhuma música deles. Com Rodolfo no baixo, Digão no violão, Fred nos tambores e Canisso nos vocais!! Eles tocaram "Nothing Else Matters", do Metallica, "Daniel na Cova dos Leões", do Legião Urbana e "La Bella Lunã", dos Paralamas do Sucesso.

A Folha de São Paulo promoveu mais um chat (25/02/97), e desta vez foi a vez do guitarrista Digão, dos Raimundos. O chat foi bom e mais compreensível que o chat anterior com Rodolfo e Canisso.

No dia 16/03/97, estreou na MTV um clipe do Camisa de Vênus da música "Essa linda canção", esta música é do álbum "Quem é você ?" do Camisa. Na música os Raimundos fazem uma participação especial com Rodolfo dividindo os vocais com o vocalista do Camisa, Marcelo Nova.

O baixista Canisso participou do game interativo Garganta e Torcicolo da MTV (07/04/97). Jogando com o Garganta, Canisso perdeu para um garoto que jogava com o Torcicolo. O apresentador do programa João Gordo, zoou muito com a cara dele depois que perdeu.

Em 22/04/97, o baixista Canisso participou do programa Mtv No Ar, no quadro " Que som é esse ? " Ele adivinhou todas as músicas. Tinha Beatles, Rage Against the machine, Marilyn Manson, e AC/DC.

No MTV Rock & Gol 97, os Raimundos foram eliminados na primeira fase pelo combinado Ultraje a Rigor/Dr.Sin por 3X3, já que o adversário tinha a vantagem do empate, o vice-campeão do ano passado jogou assim: Rodrigo no gol (Que ganhou o apelido de " Rapunzel " pelos narrados do evento, os Sobrinhos do Ataíde), Digão, Canisso, Rodolfo, Gabriel (Little Quail and The Mad Birds), Zé Ovo (Little Quail and The Mad Birds), Ronan (PxUxS) e Roberto (Ronaldo e os Impedidos). Gols: Roberto (2) e Ronan, todos no primeiro tempo.

Em 03/09/97, o baixista Canisso participou do game interativo Garganta e Torcicolo na MTV novamente. Jogando na nova versão do programa, agora com 1 hora de duração, Canisso perdeu novamente, como na outra vez jogando com o Garganta.

"Desculpe Mas Eu Vou Chorar", sim, Raimundos gravaram essa música em 93. Dessa vez, a banda comparece à coletânea "Cult Cover Demo", produzida pelo programa Cult 22, da Rádio Cultura FM de Brasília. O programa realizou uma coletânea com bandas da cidade executando covers diversos, à escolha de cada grupo. Entre as poucas bandas que optaram por um cover em português, o grupo Raimundos aproveitou a oportunidade para registrar o seu lado mais brega. O resultado é uma versão hardcore para a música que ficou famosa na voz da dupla sertaneja Leandro & Leonardo, com final hilário (essa música foi incluída nessa sessão apenas por se tratar de um registro da mesma época que a fita demo, mas ela não está presente na fita lançada pelo grupo).

O grupo surgiu em 1987, tocando covers do Ramones. Em 92, o baterista Fred entrou na banda, completando a formação atual. Antes disso, a banda fez algumas apresentações usando uma bateria eletrônica!!!

Foi numa viagem para Campinas em 93, que o vocalista Rodolfo resolveu aderir aos dreadlocks que ostentou até abril de 97, quando foi obrigado a contá-los por causa de mofo (por serem muito grossos, os dreadlocks não secavam).

Durante um show em São Paulo , antes do lançamento do primeiro álbum, um inesperado "mosh" dado pelo baterista Fred resultou em acidente. Ele caiu literalmente de cabeça no chão, o que causou um coágulo no cérebro, felizmente retirado com uma cirurgia.

Rodolfo e Digão já foram Mamonas??? Os dois integrantes dos Raimundos participaram da primeira fase da banda The Mamonas, em 1990 (em Brasília), especializada em covers dos Ramones. Rodolfo na guitarra, Digão na bateria, Paulo Delega no baixo e Sérgio Bolacha no vocal (ambos da BSB-H, naquela época).

Não se contentando com a saída do The Mamonas, Rodolfo e Digão trataram de montar uma banda paralela para "passar o tempo" nas suas passagens por Brasília . A banda , com o nome de FM Band, conta com Rodolfo na guitarra, Digão na bateria, Luiz Eduardo (ex-El Kabong) no baixo, e Tello (ex-Filhos de Menguele) no vocal. "A sigla tem vários significados: Fla Mengo, F... Mulher, Fazendo Música e outros que a gente vai inventando e não dá pra falar", conta Digão.

Definição dada pelo Canisso ao som da banda: "A nossa viagem é pegar a velocidade do hardcore, o peso do trash e a melodia do punk rock e misturar com letras de duplo sentido e mudanças de ritmo".

A relação do Raimundos com Martin Lutero (Tello), ex-vocalista da extinta banda Filhos de Menguele, vai além do projeto FM Band. "O Tello é o quinto raimundo. Ele tem as manha de fazer letra. O cara é bem raimundo" revela Rodolfo. Tello participou do show de lançamento do disco do Raimundos em Brasília, cantando "Palhas do Coqueiro" (de sua autoria), após a abertura com sua própria banda. Além da música citada, Tello participou das composições de "Minha Cunhada" e "Marujo", do primeiro disco. Já no álbum "Lapadas do Povo", Tello contribui com "Ui, Ui, Ui".

A música "Selim", tinha os termos vagina e ânus censurados nas rádios (aquele famoso PIM).

Entre as bandas que influenciaram o som do Raimundos, entram em destaque os grupos Ramone e Dead Kennedys.

No programa "Raimundos na Estrada" apresentado pela MTV, Rodolfo acompanhado do primo Augustinho levou a equipe da emissora para conhecer o famoso "Roda Viva" em João Pessoa, local onde ele teria sido "inaugurado" em 86, conforme a letra de "Puteiro em João Pessoa".

Clique aqui para ver a primeira e a segunda parte.

A capa do "Lavô Tá Novo" é uma adaptação de uma idéia que os Raimundos tiveram para o primeiro disco: uma pessoa saindo de dentro da capa com um balão escrito "E aí, cara!".

Alguns nomes sugeridos para o segundo disco: "Beleza!!", "Lavô Tá Limpo!", "Agora Vocês Vão Ver" e "Dedo Amarelo". O último, idéia do Rodolfo, ninguém gostou. "Ia ser um dedão com uma cara de chapado desenhada e o amarelo da resina como cabelinho" explica.

O cara que aparece na capa do "Lavô Tá Novo" é Josias Gonçalves, 65 anos ,vigia noturno no estúdio Be Bop, onde a banda gravou o primeiro disco (inclusive o nome dele está presente nos Agradecimentos). O trabalho lhe rendeu 300 reais, após a explicação que varias fotos seriam tiradas, mas apenas uma seria utilizada (segundo o "modelo" o acordo era de 300 por foto). "A banda que me quiser para a capa, é só passar aqui que a gente acerta o precinho", propôs Josias . Quanto à dona daquela bunda maravilhosa da parte de trás do CD, a banda não deu nenhuma pista...

O único passeio que a banda deu na Espanha (96) foi uma volta no quarteirão das putas que ficava na rua atrás do hotel, contou Canisso.

Durante a apresentação da banda no "Xuxa Hits", Digão chegou até a cair no palco. "Só uma paquita que viu. Ficou tirando um sarro". Clique aqui para ver a apresentação.

Durante a passagem da banda pelos EUA, Rodolfo resolveu aventurar-se no surf: "Quando fomos mixar o disco na Califórnia, tentei surfar. Mas as praias em Santa Barbara são uma bosta! É cheio de petróleo, cheio de alga. A maré enche e deixa tudo na areia. Vai apodrecendo, fedendo e as moscas ficam comendo, as abelhas cruando... A água gelada, só entra surfista de roupa, sacou? E eu fui pegar onda no courão, Rodox paraíba lá, só de bermuda. Entrei e aahh! Consegui chegar lá, brother, começou a doer a cabeça de frio. Tomei caldo, me senti num copo de coca-cola, mifu...".

Exigências feitas pela banda para o camarim no festival Philips Monsters Of Rock 96: - 36 Toddynhos; - Cadeiras e sofás para 22 pessoas; - Enorme quantidade de Gatorade Tangerina.

A apresentação da banda no MTV Vídeo Music Brasil 96 foi um dos momentos mais engraçados da festa. A banda foi anunciada pelos pais de Rodolfo (seu Manel e dona Jacira), sentados na platéia, que apresentaram o mesmo "humor nordestino" característico do filho.

Depois do "Xuxa Hits" foi a vez da banda se apresentar em um outro programa de auditório: "Domingo Legal" (10/11/96). É mole? Um dos possíveis motivos da apresentação seria o último show da banda em São Paulo neste ano (a noite, eles encerraram a temporada de três dias na casa de shows Olympia). Tocaram "I Saw You Saying" e "Tá Querendo Desquitar", com direito a coreografia feita pela dançarina baiana Rios, descoberta pelo grupo em Porto Seguro. O duro foi ver Raimundos fazendo "play-back". Mas tudo em nome do rock'n'roll. Clique aqui para ver "Puteiro em João Pessoa", "Ta Querendo Desquitar" e "I Saw You Saying".

Os caras também já se apresentaram no programa Turma da Cultura e Ratinho Livre, em 98. Clique aqui para ver "Tora Tora".

O vocalista Rodolfo assina os autógrafos como "Rodox". Detalhe, Rodolfo é o único que não adotou apelido como nome artístico.

Canisso se escreve com dois "S", e não com "Ç", como aparece no encarte do primeiro CD.
Pra quem ainda não sabe, a foto da capa do álbum "Lapadas do Povo" foi tirada por um roadie da banda, o Betinho (Roberto da Paixão). A banda jura que não foi feita nenhuma montagem em relação ao reflexo da Van (a distância parece ser bem maior). Apenas as placas foram modificadas: LP01/06 (a sigla do nome do álbum, e a data correspondente ao inicio das gravações), 0408 (04/08, a data em que as gravações terminaram), 97 98 (os anos prováveis de trabalho em cima deste álbum), BNITCH (a gíria para "bonito", presente na música "Pequena Raimunda") e o novo logo da banda (incluindo o símbolo com um "R" no meio). Além disso, o caminhão pode ser interpretado como um objeto de "peso" (a tendência explícita do álbum) e também de conter algo "inflamável" (também relaciona a atual atitude do grupo, de querer explodir tudo.

Rodolfo e Digão gravaram a musica Wipe Out 2, para fazer parte da trilha sonora do curta metragem "The Big Shit" da cineastra Renata Neves.

Os fãs da banda que também curtem Ramones devem estar gostando mais ainda da nova fase do Raimundos. Além de gravarem "Pequena Raimunda" (versão para "Ramona") e fazerem uma versão para "Oliver's Army" do Elvis Costello bem ao estilo Ramones, a banda está tocando nos shows da "Turnê Lapadas do Povo" a música "Surfin' Bird", esticando a introdução incluída no álbum, logo após "Pequena Raimunda".

"Véio, Manco e Gordo" é inspirada no baixista Canisso, mas tem como objetivo criticar a galera que fica o dia inteiro sem fazer nada. O trecho "..correr com o Manel" provavelmente se refere ao pai do Rodolfo, Seu Manoel.

Quem já ouviu a música "Festa da Música", do Gabriel "o Pensador", percebeu que o rapper menciona a banda na música:

"... o João Gordo vomitou no meu pé
Fui limpar e dei de cara com os Raimundos
Que me contaram que entraram pelos fundos
Perguntei pelo banheiro e fiz papel de mané
Os sacanas me mandaram pro banheiro de mulher..."


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Raimundos e Rock Gol


Rock e Gol é um campeonato disputado por bandas de rock, pop e pagode nacionais, um evento criado, pela MTV, desde 1995. Os jogos foram realizados no SPAC (São Paulo Atlético Clube - Clube dos Ingleses), ao lado da Represa de Guarapiranga, no periodo de 03 a 06 de maio.

Time

Raimundos / Nativus

1 - Rodrigão (Raimundos)
2 - Canisso (Raimundos)
3 - Luis Maurício (Nativus)
4 - Digão (Raimundos)
5 - Kiko (Nativus)
6 - Canibal (Devotos do Ódio)
7 - Juninho (Nativus)
8 - Bruno Dourado (Nativus)
9 - Rodox (Raimundos)
10 - Alexandre (Nativus)

A Campanha

Primeira Fase - Vitória em cima da equipe do Soweto, Resultado.:

Soweto ??? x ??? Raimundos / Nativus

Quartas de Finais - Eliminados pela equipe do Sepultura, Resultado.:

Sepultura 2* x 2 Raimundos / Nativus

* Vitória nos penaltis

Vídeo



Entrevista com Digão


Digão, dos Raimundos, empolgado para a maratona do futebol: "Acho que o nosso time está bem entrosado, a galera anda treinando bastante e a gente quer é levar a taça! Acho que não vai ter pra ninguém. Eu sou melhor que o Romário! Jogo toda quinta e domingo com o pessoal do meu condomínio. Normalmente, eu gosto de ficar na zaga, porque, pra falar a verdade, eu não curto muito jogar, eu gosto mesmo é de abater! Quando eu era garoto, não ligava pra futebol, queria só tocar. Hoje, eu me amarro em assistir aos jogos, nem precisa ser o Flamengo em campo.

A banda participa do Rock e Gol desde o começo. Na melhor campanha a gente foi vice-campeão, em 1997, fazendo a final contra o Sr. Banana. O que eu acho mais legal é que o futebol precisa de uma união que a nossa banda também tem. O time só ganha quando é unido, quando todo mundo tem uma boa visão do jogo. Adrenalina pura! Isso tem muito a ver com futebol ou com surfe e, principalmente, com o som que a gente faz."





segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Revista Trip - Ano 12 - nº 69 1999


Na folga de seu plantão, o soldado Arthur Veríssimo ciceroneia os Raimundos num rolê pelo puteiro mais chique do Brasil.

Por Arthur Veríssimo


Canisso

Às margens da avenida Bandeirantes, na Zona Sul de São Paulo, fica localizada a casa de relax e sauna (ic. hiphiphurra), ou melhor, bordel de espetáculos e puteiro de classe A, batizado Bahamas. O templo de Eros é extremamente manjado pelos pafúncios, fazendeiros do brasilzão afora, maurícios abandonados, cantores de sertanejo e pagode bem sucedidos, jogadores de futebol e garanhões sedentos por sacanagem e mulher gostosa e bonita. Havia marcado um apontamento com o creme de la creme da contravenção do rock tupiniquim, os Raimundos. À meia-noite cravada, a campainha tocou na porta de casa. Era a gangue em adiantado estado de euforia e embriaguez. No interior do comboio, apresentações à parte, os autores do fenomenal sucesso popular "Puteiro em João Pessoa" lançaram em jogral um mantra raimundiano: "Olha Arthur, sou casado. Vê direito o que você vai escrever, certo".

Nunca havia pisado no Bahamas e nem sabia ao certo onde se localizava a grutinha dos prazeres. Conheço pelas minhas andanças e viagens diversos inferninhos e red light zone mundo afora. Agora, ser escalado para acompanhar e observar o grau de testosterona e libido da moçada foi para mim o clássico "Killing Joke". A caminho do babado, perguntei para o motorista se sabia o local do crime. O sujeito, com um olhar de Rony Cocegas, respondeu "É perto do Kilt, Wagon Plaza, doutor?". Primeiro, doutor é a benga e, segundo, va fan culo, testa de catiso. Porra, ninguém tinha idéia do local. Nossa expedição era de marinheiros de primeira viagem - eu de capitão Hadock, o parceiro rabugento de um grupo de cinco Tintins curiosos. Sosseguei a impaciência e a ansiedade e lançei "Vamos para a Bandeirantes que é por ali". Batatolina: mal viramos na avenida e as seis cabeças hipnotizadas captaram neons caribenhos do Bahamas. Uivos e demonstrações de virilidade ecoaram no furgão. Dezenas de carros importados faziam a fachada do "BH".


Paninhos e camisolas sumárias


Digão

Fomos recebidos por uma recepcionista didática e objetiva. "Vocês já conhecem o sistema da casa?". O jogral raimundiano timidamente respondeu "Não". A tiazinha, com um olhar de preceptora de colégio interno "adventista de sétimo dia" (já estudei lá), finalizou: "Custa 71 reais para entrar com direito à sauna, banho e roupão. Vocês recebem uma pulseira com um número. Para beber, e caso queiram utilizar nossas suítes no andar de cima, a hora custa 51 reais. Passou disso, é o dobro. O preço para fazer um programa com as meninas vocês decidem com elas, ok?". Boa Sorte.

Na porta, uma multidão de camisas Richardís se mesclava com gravatas recém-engomadas, paletós Giorgio Armani e Ermenegildo Zegna. Fivelões e botinhas de cowboy aceleravam o passo e batiam os casquinhos (em festa de rodeio não é bom ficar parado - o novo sucesso pentelho do maleta do Leonardo ecoava). Ao meu lado a esquadrilha da fumaça dos Raimundos, de bermudões e camiseta vencida, destoava da (aarrghhh) elegância. Imagine o encontro de Beavis e Butt-head com os engomadões da novela da Globo. Pois é, foi mais ou menos isso que aconteceu. O transe dos garanhões e pangarés foi absolutamente total. No interior, de cara, o que vimos foram quatro dúzias de gatas alucinantes cobertas por paninhos e camisolas sumárias. O nosso grupo rapidamente se esquivou dos nobres elegantes e se encaixou num canto esperando uma mesa vazia. Estado de choque diante do mulherio sarado com aquela típica carinha de anjos devoradores e safados. Os primeiros 15 minutos são de tirar o fôlego, cai a pressão no ato. Ficamos embasbacados diante do mulherio de primeira. Se segura peão é o lema.


Fred

O ambiente prima pela perfumaria típica de um Free Shop. A galinhada masculina solta as penas pra cima dos filés e pacotões femininos. Nada escapa do olhar fulminante de Rodolfo e companhia. À medida que o tempo foi passando, a descontração se instalou na moçadinha. A mulherada chegava junto para conversar e pedir autógrafo. Tentação carnal pululando diante dos sentidos. O Bahamas, cumpádi, é o maior contingente de capas de revistas já vistas pelos meus olhos. A capa do mês de dezembro da Club International tem uma conversa delirante com a capa da Hustler de fevereiro. Ao meu lado, a página central da Private de setembro me lança olhares fulminantes que até fariam Clovis Bornay rever seus apetites e desejos sexuais. KILOCURA!


Mui mui amabiles

Daniel e o mala do Leonardo é o som que toca nos speakers. A mesa de sinuca é uma verdadeira alucinação. Digão com o taco na mão parece um centurião da Roma antiga. Enquanto isso, Canisso, Fred e Rodolfo esperam a vez na mesa observando o vai e vem de suculentos pernis. O clima, por incrível que pareça, é tranquilo e alto astral. Na maioria dos bordéis desse mundão que Deus criou, a vibe é sempre carregada e envuduzada. No BH, além da decoração brega-chique, as garotas de programa são mui mui amabiles. Também, pudera: a média do soldo mensal das gurias gira em torno de 4 000 reais para a mais pobrezinha, e uns 15 000 pra top bombástica. Fora os presentinhos dos amantes, estilo carro importado, apê e viagens ao exterior.


Rodolfo

As libélulas e mariposas chegam junto na boa pra conversar. Um manjar interplanetário de nome Michelle acoplou na minha mesa. Papo vem papo vai, ela me explicou cheia de sedução que nos dois andares de cima do Bahamas existem diversas suítes. "Vamos nessa, faço um strip-tease que você nunca viu na vida." Fiquei completamente embaraçado. Ela complementou: "O que você acha da Vanessinha minha priminha (capa de outubro da Internacional) ir junto com a gente fazer uma susu?". Sacanagem, pegando pelo lado fraco masculino a tal da Michelle queria me enlouquecer e foder com a reportagem e meu casamento. O fotógrafo desta reportagem (Christian) havia desaparecido por mais de uma hora. Perguntei para o Canisso cadê o Christian. "Porra, brother, vi o cara saindo da sauna de roupão branco e subindo as escadas feito um míssil". Fui averiguar as suítes. Não achei o cara, mas vi quartinhos com espelhos por todos os lados. São mukifos kistchs bem parecidos com os hotéis de Amsterdã e Hamburgo. Até na privada existe um refletor de perequita.

Voltei para o meu assento próximo à mesa de bilhar. O mulherio vai se revezando pelas mesas. É inacreditável a quantidade e qualidade das beldades. O drinque predileto entre elas é o licorzinho 43 que sai 18 reais a dose. Cervejinha, my brother, está na faixa dos 10 cascalhos, e um hi-fi custa 25. Jogar um bilharzinho sai 5 contos cada 15 minutos. Ficamos acertando bola na caçapa por duas horas. Quando percebi, olhei o Fred e ele já dormia ao lado do Canisso. Christian havia aparecido com o seu indefectível roupão branco. Os salões do BH já estavam vazios. Sobreviviam dois pafúncios querendo arrastar três gaúchas angelicais para casa. O que sobrou na área era o batalhão dos Raimundos e a petulante e deliciosa Valéria, que ganhava todas as partidas de sinuca. Garçons e faxineiros limpavam as sobras do chão e ajeitavam cadeiras. Às 4h25 da madrugada pagamos as contas e voltamos feito anjinhos do pau oco para nossas respectivas casas. Cheios de sonhos eróticos e atarantados.


Revista Trip - Ano 12 - nº 69 - 04 - 99


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Jornal do Comércio - Recife - Setembro de 1997


Raimundos detona no Skol Rock e faz a galera delirar

Já na entrada da arena do Skol Rock, montada no Pólo Pina, a grande quantidade de adolescentes vestidos com camisetas do Raimundos anunciava quem era a grande atração da noite do sábado. Um público fiel, fã da barulheira que o Raimundos fazem como ninguém, estava lá de guarda, sem muito interesse pelas outras bandas, só esperando os ídolos pisarem no palco. Quando isto aconteceu, a moçada, até então espalhada pela areia, aglomerou-se na frente do palco. A partir daí, foi só porrada, rodas de pogo e muita guitarra envenenada. Milhares de pessoas cantaram os refrões rosnados pelos Raimundos.

O show dos rapazes de Brasília foi uma lição para as bandas iniciantes, que se apresentaram no início da noite, concorrendo a uma vaga na final do Skol Rock, que acontece em São Paulo, no mês de novembro. Entre as principais falhas das concorrentes, estão dois ingredientes que o Raimundos têm de sobra: empatia com o público e presença marcante no palco. Durante a apresentação, os músicos conseguiram ganhar a platéia. A galera dança, canta e delira, num ritual bem conhecido e admirado pelos fãs do bom rock'n'roll envenenado.

Sem a mesma performance do Raimundos, mas com a tranquilidade de quem está tocando em casa, os pernambucanos da Mundo Livre S/A também se garantiram. Eles cantaram alguns dos sucessos da banda, como Musa da Ilha Grande, Mangue Bit, Samba Esquema Noise e A Bola do Jogo, que ganhou uma coreografia sensual das meninas, elogiadas pelo vocalista Fred Zero Quatro. O show da Mundo Livre foi o último da turnê Güentando a Ôia e trouxe algumas músicas do próximo CD, que deve ser lançado antes do final do ano. Para quem tiver pressa, a gravadora solta um single, que chega às lojas nas próximas semanas.

PRÊMIO - Além das atrações nacionais, Severinos Atômicos (segundo lugar no ano passado), Andaluza e seis bandas concorrentes também marcaram presença no palco do Skol Rock. As favoritas - Frank Jr. e Hanagorik - ficaram em primeiro e segundo lugar, respectivamente. Apesar do título e da torcida do público, a apresentação da Frank Jr. não foi tão marcante quanto a da Hanagorik, de Surubim. Os meninos do agreste têm presença marcante no palco e o vocalista se garante, com uma voz segura e afiada. A zebra da noite ficou com Los Caçadores Del Chaco. Apesar da boa apresentação, das letras divertidas e da boa afinação, os meninos de Fortaleza não foram classificados nem em quinto lugar.

Por Daiana Moura Barbosa e Marcelo Pereira.


Jornal do Comércio, Recife, 08 de setembro de 1997