domingo, 23 de maio de 2010

Entrevista a Paulo Marchetti - 2000




Em 2000 após sete de MTV Brasil, saí da emissora e fui ser editor de música de um site chamado TantoFaz.net que hoje não existe mais. Naquele ano inclusive ganhamos o prêmio IBest de Melhor Site Para Adolescentes. Bom, o fato é que entrevistei muita gente legal. Muitas dessas entrevistas perdi, mas outras acabei encontrando em disquetes que julgava perdidos.

Aqui a conversa é com Digão, então guitarrista do Raimundos. Ela aconteceu durante a gravação do disco do Filhos de Mengele, na casa de Carlinhos Bartolini, onde nós estávamos gravando as bases de bateria e baixo. Infelizmente a idéia do disco não foi adiante, mas atualmente nos reunimos novamente e agora só falta eu colocar as vozes e quem sabe ainda em 2008 o tão sonhado disco do Filhos de Mengele finalmente seja lançado. Essa conversa com Digão aconteceu em 2000, mas não lembro exatamente quando. Além dessa gravação também nos reunimos no Palco B do festival Porão do Rock para uma rápida apresentação. No site da Trama Virtual, colocando na busca Filhos de Mengele, você poderá ouvir e baixar essa apresentação no Porão do Rock e duas demos tiradas dessa gravação de 2000.

Ah!!! De quebra há, no final, uma entrevista relâmpago com Canisso e Rodolfo que não sei onde e quando aconteceu. Provavelmente no início de 2001 ou final de 2000...



Paulo Marchetti - Como começou esta história de gravar um cd com os Filhos de Mengele?
Digão - Nós nunca gravamos um disco, acho que era uma coisa que tava devendo, porque eu sempre tive vontade também de registrar as músicas que marcou uma época muito forte pra mim.

Paulo Marchetti - Quanto tempo você ficou na banda?
Digão - Fiquei de 86 até 89. Em 89 eu já tava desencanado.

Paulo Marchetti - Mas você saiu por quê, por causa dos Raimundos ou…?
Digão - A banda foi desencanando e foi rolando o Raimundos, né… Aí fiquei com os Raimundos até 89/90 aí a banda acabou…

Paulo Marchetti - Acabou Filhos de Mengele e Raimundos?
Digão - É

Paulo Marchetti - E o que você ficou fazendo nesse período?
Digão - Fiquei só tocando viola, né. Vendi uma parte da minha bateria e viajei pro Rio, aí a grana acabou, voltei pra Brasília.

Paulo Marchetti - Você trabalhava nessa época?
Digão - Cheguei a trabalhar. Trabalhei com os meus pais, trabalhei na firma do meu irmão, trabalhei em loja, trabalhei na Funsef, eu até encontrava com o Betinho (roadie dos Raimundos), o Betinho fazia manutenção de impressora, sei lá, limpava… sempre fazia a mesma coisa (risos) era o Betinho, brother… amigo nosso…

Paulo Marchetti - Há quanto tempo vocês estão em turnê com o Só no Forevis?
Digão - A gente tá no Só no Forevis há um ano… já passou de um ano.

Paulo Marchetti - E quando vocês irão lançar este disco ao vivo?
Digão - Agosto… vamos lançar em agosto.

Paulo Marchetti - E já tá tudo pronto? Mixado?…
Digão - Não… mas já tá gravado.

Paulo Marchetti - Já foram escolhidas as músicas?
Digão - Ainda não, mas iremos escolher ainda esse mês.

Paulo Marchetti - Quantas tem?
Digão - Cara, acho que são uns seis shows gravados. Seis shows para escolher…

Paulo Marchetti - E quantas irão entrar? Você já tem idéia do que querem? Umas quinze?
Digão - Mais, cara, vai ser um duplo ao vivo… It’s Alive… (Nota: Digão se refere ao primeiro disco ao vivo do Ramones).

Paulo Marchetti - E esses seis shows foram fotografados, foram filmados?
Digão - O de Curitiba principalmente, tem muita foto do Beto. Acho que vai sair mais as fotos do show de Curitiba, que tem muito material legal. E as músicas também no show de Curitiba foram bem legais, então acho que boa parte vai ser d’ali. Porque o show de Curitiba já era o quinto e o sexto show, já tava redondo, familiarizado, consciente, tudo… No dia do show… porra, maior esquema e tal, tocar direitinho, tocar em cima da parada...

Paulo Marchetti - E vocês estão fazendo tudo, produção…? Com quem vocês estão trabalhando?
Digão - Estamos com o Tom Capone. Estamos fazendo com a mesma equipe.

Paulo Marchetti - A mesma equipe do Só no Forevis?
Digão - É, e o Miranda também. Acho que o Miranda tá na parada, não sei. O Miranda tá junto né… o Miranda é o Guru espiritual da banda. O Miranda não precisa falar, ele tem que estar lá, cara. Tem que estar a banda toda pra gravar e pra fazer as paradas, que rola legal. O Miranda tem que estar lá, cara.

Paulo Marchetti - Vai sair uma foto ao vivo na capa?
Digão - Não, acho que vai sair um desenho. Porque assim (risos)… outro dia eu tava doidão assim né, aí neguinho lá e tal, e aí eu falei: pô a gente podia fazer um dia, um disco acústico, que poderia chamar Cantigas de Roda, aí o Rodolfo: “Caralho, Cantigas de Roda”, porque né, é o ao vivo pra galera pogar. Então aí ele quer fazer tipo uma fogueira, um desenho com uma fogueira e todos os personagens, curupira, mula-sem-cabeça, saci, todo mundo dançando e fazendo uma roda na fogueira, de mãos dadas. Todo mundo achou do caralho essa idéia. Eu acho legal também…

Paulo Marchetti - Bom, os hits vão estar certamente. Palhas, Nega Jurema
Digão - Tudo, tudo, tudo. Quer ver uma música que não vai estar…Carro Forte não vai estar, Bicharada não vai estar, Cintura Fina… só.

Paulo Marchetti - E vocês vão emendar uma turnê na outra, como vocês sempre fazem?
Digão - É , a gente nunca parou na verdade…

Paulo Marchetti - Pois é cara, é uma doideira. E vocês não sentem falta de umas férias?
Digão - Eu sinto, principalmente agora, por causa das crianças. Sinto uma falta de ficar com a molecada, mas é o problema da onda né cara, é a onda, você tem que ir junto, não pode parar…você tem que parar na hora que ela parar, aí você pára. Você pára e vai…não parou, então a gente ainda tá lá, ainda estamos remando, ainda estamos dentro da onda.

Paulo Marchetti - Onde que vocês compõem, no hotel, na estrada?
Digão - Aí que tá, foram vários lugares. O primeiro foi em Brasília, o segundo foi num estúdio em São Paulo, a gente alugou um estúdio e foi fazendo as músicas, o terceiro a gente não ensaiou, só fizemos uma música, que é o Cesta Básica. O Lapadas… fizemos na casa do Canisso, em Alphavile, no estúdio… e o Só no Forevis fizemos em São Paulo, na casa do Rodolfo, no esquema mais fulero… tipo peguei uma bateria eletronica, uma guitarra velha dele, que tava num pedestal, e enrolamos uma liga de borracha e fizemos um pedestal de microfone pra cantarmos sentados no sofá, então foi o maior esquema punk, assim isso dá maior lance pra você gravar, tipo dá maior energia legal. Você não está num estúdio cheio de equipamentos, cheio de coisas, tudo bonitinho, não, a gente tá largado e fazendo música.

Paulo Marchetti - Então vocês costumam compor tudo junto? É dificil alguém chegar com alguma coisa pronta?
Digão - Não, pronta, pronta…o Rodolfo faz isso. Uma ou outra ele chega com a música pronta, sacou…é um ajuste ou outro…é ínfima a mudança. O Rodolfo, de vez em quando, faz isso. Eu chego muito com riff e vamos montando as músicas.

Paulo Marchetti - Canisso a mesma coisa?
Digão - Canisso é raro. Ele, de vez em quando, fala uma frase, tipo “eu quero ver o oco” que foi dele. O cara é que gritou “Eu quero ver o oco” e pronto. É importante, o cara fez simplesmente a mais importante sacou? E só fez isso também (risos), mas é o mérito, é a parada, é cada um…

Paulo Marchetti - E quantos shows vocês fizeram nesse ano de Só no Forevis?
Digão - A gente deu muito show cara, já batemos a casa dos cem.

Paulo Marchetti - E qual a média de shows por mês?
Digão - Doze , treze…são uns quatro shows por semana.

Paulo Marchetti - Tem algum lugar que vocês não foram? Vocês já foram tipo pro Acre, pra Manaus?
Digão - Fomos. Acre, Manaus , Porto Velho, Rio Branco, fizemos tudo, fizemos Campo Grande, fizemos Cuiabá…

Paulo Marchetti - E a galera era legal? Porque tem poucos shows por lá né?
Digão - Porra, pintou uma galera, porque a galera é carente pra caralho lá, né.
Manaus foi a primeira vez que a gente teve público acima de vinte mil pessoas, só nosso, tinham vinte e três mil, Manaus cara, debaixo de uma chuva tropical, faltou luz, a gente tocou com o gerador da casa, e dando uns raios véio…tinham uns raios que passavam em cima do público, e na nossa frente, caralho véio!!! Só tinha visto isso em Curitiba no show do sepultura…

Paulo Marchetti - Naquele que vocês fizeram com…
Digão - Com os Ramones, Sepultura, que choveu no dia, na hora do Sepultura, os caras tocaram sete músicas, era assim… a gente tocando e, em volta de pedreira, véio, só raio, raio e o Sepultura…ficou o maior cenário maquiavélico.

Paulo Marchetti - Você tem ainda contato com o CJ Ramone?
Digão - Só quando ele vem no Brasil que a mulher dele me liga… me ligava porque não tem mais meu telefone, e sempre, toda vez que ele tava no Brasil, ele queria falar com a gente. Do caralho, CJ é brother pra caralho!

Paulo Marchetti - Então cara, vocês não vão parar de fazer turnê, vão continuar fazendo show até o final do ano e vão indo…?
Digão - É, até a parada dar uma acalmada boa.

Paulo Marchetti - Tem alguma música inédita nesse disco ao vivo?
Digão - Não, mas eu já tenho músicas inéditas.

Paulo Marchetti - Mas vocês estão tocando alguma música nova?
Digão - Não.

Paulo Marchetti - Nem pretendem?
Digão - Não, por enquanto não, nada. Eu quero guardar tudo para um disco novo.

Paulo Marchetti - Então um disco inédito só no ano que vem?
Digão - Só depois desse. Aí vai ter um tempo pra fazer um disco inédito bacana.

Paulo Marchetti - Só pra terminar, vocês vão tocar no Porão do Rock? ( Festival realizado em Brasília)
Digão - No Porão do Rock? Vamos.

Paulo Marchetti - É a primeira vez que vocês tocam nesse festival?
Digão - É, é a primeira vez.

Paulo Marchetti - Mas você já foi lá assistir alguma coisa?
Digão - Não.

Paulo Marchetti - Nunca foi lá?
Digão - Não, só vi filmagem.

Canisso - A gente gravou vários shows no decorrer dessa turnê, pelo fato da música ter emplacado e a gente teve a oportunidade de fazer uma tour bem legal. Os maiores shows, os que tinham melhor equipamento, com o público mais na palma da mão... então tinha que registrar isso. gravamos dois na Via Funchal, um em Sorocaba, mais alguma coisa em Goiânia, e gravamos dois dias em Curitiba. Sendo que no de Curitiba não vai precisar nem mexer. Ficou redondo. E a gente tem algumas músicas que ficaram melhores, vamos para o estúdio agora e vamos ver como vai ficar. Os principais shows estão gravados em vídeo. Se ele não for lançado, terá pelo menos uma faixa no CD-Rom.

Paulo Marchetti - Como você lida com as fãs mais apaixonadas?
Rodolfo - Tem que dar atenção, né? Mas você vê que essa doideira é muito culpa da mídia. Ano passado não tinha isso. Mas o assédio das fãs não me enche muito não, desde que não invada a minha vida, não vire uma doideira. Porque tem gente fanática que acaba enchendo o saco, né? Mas acho que não me incomoda não, acho massa. É um sentimento bom.

Paulo Marchetti - Se a fã for gata?
Rodolfo - Qualquer mulher gata impressiona qualquer homem. Mas é outra parada. A mina tá ali se derretendo pelo sonho.

Paulo Marchetti - O que você pode falar sobre o disco?
Rodolfo - Tivemos a idéia de lançar um ao vivo mas, para isso, tem que ser numa turnê que esteja bem legal. E essa “Só no Forévis” foi a mais legal de todas que a gente já fez. Tanto de público, quanto do som da banda. As paradas melhoraram. Então achamos que era o momento legal da gente gravar isso. Gravamos uns oito shows, porque quisemos fazer uma parada ao vivo mesmo. A gente gravou vários shows para pegar o mais legal, e colocar com os defeitos que ele tiver.

Paulo Marchetti - Não vai ter nenhum retoque?
Rodolfo - Cara, não. Se Deus quiser, não. Vai ser lançado em agosto.


sábado, 15 de maio de 2010

O perfil Raimundos é eu sim!

Resposta que Digão encontrou para provar que o perfil "Raimundos" que posta na comunidade Raimundos Oficial é verdadeiro...

O perfil Raimundos é (com o dedo em cima) eu simmmm! CACILD'S He He He

Raimundos no Brazilian Day



O Raimundos tocará dia 31 de julho em Londres, quando paricipará do Brazilian Day, festival destinado à comunidade de brasileiros e que é promovido pela Rede Globo.

Tweet do Digão: Raimundos escalado para o Brazilian Day em Londres dia 31 de Julho! Evento da TV Globo exibido no mundo todo!!! RT galera!!! Showzzzzzzzzzzz


Tico St Cruz encontra Di Ferrero


Di Ferrero, Gee rocha, Digão e amigos

Após especulações sobre uma briga entre Di Ferrero e Tico Santa Cruz (Raimundos) no Twitter, os dois vocalistas se encontram para jogar sinuca. As duas bandas iriam se apresentar neste último sábado (01), em Porto Alegre, no Atlântida Festival, mas antes disso os grupos se encontraram para jogar sinuca e conversar.


"Deixa eu falar uma parada aqui, teve muito blábláblá de Twitter, agora a gente vai colocar os pingos nos 'is' e vamos acabar com essa parada de uma vez por todas, porque união meu brother é o que faz a força, e a gente é muito mais do que separado e eu quero chamar um cara aqui que vai mostrar isso pra vocês, chega ai Di!", afirma Digão, guitarrista do Raimundos, que chama o vocalista Di Ferrero pra finalmente esclarecer os fatos com muito rock.


E foi assim que Tico Santa Cruz e Di Ferrero se encontraram em um abraço e colocaram um ponto final nas especulações que estavam ocorrendo após um mal entendido no twitter. "É isso aê rapaziada, rock'n roll na veia, Raimundos tá de volta na área é isso aê!", diz Di Ferrero ao dividir o palco com Raimundos. Os gritos, que antes eram muitos, com o início da música "Eu quero ver o oco" fizeram o fesitval agitar ainda mais. Assim que a música terminou, Di Ferrero afirmou: "É uma das maiores bandas do Brasil, é o Raimundos vamos fazer barulho pros caras aê!".

Confira a seguir um vídeo que um cara da produção gravou do Di curtindo o show dos Raimundos nos bastidores logo após o encontro musical:


EXCLUSIVO: Bate-papo com Raimundos



Entrando no ritmo de aquecimento para as 24 horas de atrações da 6° edição da Virada Cultural deste ano, o Sonico preparou uma série de entrevistas com algumas das principais bandas que vão se apresentar no evento.

O bate-papo que você vai conferir a seguir é com o guitarrista Marquim, novo integrante da banda Raimundos (nota do "blogueiro": "novo integrante?"), que também está em nova fase, com Digão nos vocais. Sobre a nova formação, Marquim comenta. “Nesses últimos meses trabalhamos duro para consolidar a nova formação, com muitos ensaios. O Caio passou por uma verdadeira ‘lavagem cerebral’ para aprender todas as minúcias das músicas, respeitando a herança raimundística tão importante”.

Para o futuro, a banda não tem pressa. O momento agora é de consolidar a nova formação com muitos shows pelo Brasil e levar ao público o patrimônio de hits que a banda conquistou nos quase 20 anos de carreira. Assista vídeos, veja fotos, deixe seus comentários e saiba tudo sobre a banda na página oficial do Raimundos no Sonico!

Vídeo da entrevista...


Raimundos se apresentam sem Tico St Cruz em São Paulo



Cantor cumpre a agenda com o Detonautas neste fim de semana

De volta à cena, os Raimundos fazem show neste sábado (8), às 22h, no O Kazebre. O grupo sobe ao palco da casa sem Tico Santa Cruz, escalado para assumir os vocais durante a turnê de 2010, pois o músico se apresenta com o Detonautas nesta data. Seu próximo show com os Raimudos acontece em 2 de junho, em Belém do Pará.

Na noite de hoje, Digão solta a voz em canções como Mulher de Fases e I Saw You Saying, além de releituras de sucessos do rock nacional e internacional. A programação ainda traz os grupos d'Naipes, Suplicio, e Diet Music, cover dos Mamonas Assassinas.

Raimundos

Quando: sábado (8), às 22h
Onde: O Kazebre - av. Aricandura, 12000, Vila Aricanduva. São Paulo (SP)
Quanto: R$ 15

Raimundos, 10 anos de HC - 1999 - PARTE II


Lapadas e mudanças

Em 97, os Raimundos começaram a preparar o terceiro álbum, mas os compromissos agendados e o inesperado sucesso de “Cesta Básica” atrasaram os trabalhos. Além de shows que não param de rolar, inclusive com a banda passando até mais de duas vezes com a tour em determinados lugares, o Raimundos participa da gravação dos álbuns de Rita Lee e do Camisa de Vênus.

É só no segundo semestre que “Lapadas do Povo” começou a ser efetivamente trabalhado, de novo com a produção de Mark Dearnley, mas desta vez todo gravado no exterior. A banda tece comentários de que “Lapadas” seria o seu trabalho mais pesado, e com menos escrachos e palavrões. Daí a manutenção de Mark na produção.

Lapadas do Povo” já da o ar da graça em “Andar Na Pedra”, com um riff típico de metal, ultrapesado, de fazer inveja aos bons tempos do Suicidal Tendencies, com direito a um grande solo de Digão, outrora limitado a palhetadas distorcidas. Hardcores rapidíssimos marcam presença com “Véio, Manco e Gordo”, “CC de Com Força” e “Crumis Ódamis”. Não há realmente espaço para as tradicionais baixarias (“Ui, Ui, Ui” é a exceção), mas a presença da temática nordestina continua firme, como se vê em “Poquito Más (Healthy Food)” e em “Nariz de Doze”. A novidade é a cover de “Oliver’s Army”, de Elvis Costello e a versão para “Ramona”, que aqui virou “Pequena Raimunda”. Com “Lapadas do Povo”, basicamente um álbum crossover, o Raimundos se confirma no mercado como uma banda madura, entrosada e cometendo um dos trabalhos mais bem produzidos do ano.

A tour do novo álbum começou mal. Após um dos primeiros shows, em Santos, em novembro, um tumulto causado pela falta de organização do clube local (poucos acessos, portas trancadas) deixou mais de 100 feridos e resultou na morte de sete fãs. O detalhe é que os músicos só ficaram sabendo do ocorrido quando estavam no hotel, e o pior é que toda a grande mídia, com é de costume, deu ênfase ao fato, prejudicando, de certa forma, a imagem da banda. O quarteto se sensibilizou com o episódio e suspendeu temporariamente a recém iniciada tour.

O ano de 98 começou com a notícia da renovação do contrato com a Warner para mais cinco álbuns, estabilizando mais ainda a carreira do Raimundos. A essa altura do campeonato, os quatro candangos freqüentam não só os estúdios das rádios rock e da MTV, mas todos os maiores e mais populares programas de TV: Jô Soares Onze e Meia, Ratinho Show, Programa Livre, H, Raul Gil, Xuxa Hits, e por aí afora. A popularidade e a aceitação da banda crescem tanto que, de repente aparece na TV um comercial da Rider (grife de chinelos), com Raimundos ao fundo. Era a música “Nana Neném”, uma espécie de canção de ninar hardcore, que foi lançada em single, em agosto passado, junto com “Reggae do Manêro”, inédita até então. O ano terminou com a participação do Raimundos em dois shows da tour do Iron Maiden e Helloween, em São Paulo e em Curitiba, onde, como de costume, a banda foi bem aceita, embora sendo um público de metal.

A volta ao começo, uma década depois

Entre fevereiro e março de 99, os Raimundos se enfiaram no Estúdio AR, no Rio de Janeiro, para a gravação do quarto álbum, “Só No Forévis”. A idéia da banda era meio que voltar um pouco ao trabalho do começo, fazer um som parecido com o do primeiro álbum. Para tanto, voltaram a recrutar Carlos Eduardo Miranda para a produção, mas dessa vez em parceria com Tom Capone e Mauro Manzoli. “Só No Forévis” terá doze músicas, sendo duas covers, uma do Little Quail e outra do Filhos de Menguele, a antiga banda do guitarrista Digão. Isso sem falar em algumas faixa bônus, já gravadas, mas não reveladas pela banda (veja a lista a seguir), e nem pela gravadora até o fechamento dessa edição. Outro detalhe ainda não divulgado é como vai ser a capa do álbum, mas já se sabe que vai ser com uma foto (não uma ilustração), e o trabalho está a cargo de Luís Stein. Como se ainda fosse pouco, a lista de participações especiais vai desde Bi Ribeiro, dos Paralamas do Sucesso, do Los Djangos, até o vocalista Alexandre, do Nativus, e Gustavo Black Alien, do Planet Hemp.

Confira agora, como serão as músicas de “Só No Forévis”, uma por uma, na relação que o vocalista Rodolfo preparou, de memória, com exclusividade para a Rock Press:

Mata o Véio” lembra... pô, me dá vontade de andar de skate quando eu ouço essa música. Parece comercial do Hollywood, música de extreme games. Ela fala um pouco da televisão brasileira;

Alegria” é uma música do Filhos de Menguele. A gente resolveu gravar essa música porque ela tem a letra mais do c* que eu já vi, é do Telo, aquele bicho doido que já compõe com a gente há 500 anos;

Língua Presa” eu fiz a letra com o Telo também. É um hardcore ligado, só que cantado por caras que têm a língua presa. Nessa música apareceu o pessoal do Los Djangos, e eles fizeram uma vinhetinha de introdução;

Aquela” é do Little Quail, que a gente resolveu regravar porque é uma música linda, e uma música linda dessas tem que ser revivida;

Me Lambe” é um skazinho maneiro, que até o Bi tocou um baixo nela, e ficou demais, cara. É uma letra meio sacaninha;

Carrão de Dois” é um hardcorezinho meio melódico, mas não é nessa linha do hardcore da Califórnia não, é um melódico brasileiro. É uma música besta que fala de um carro movido à bafo no vidro;

Fome do cão” é a única música que tem uns forró no disco, a gente mesmo gravou uma zabumba, triângulo. Essa música é irada, quem fez a letra junto comigo foram os caras do Rumbora, lá de Brasília (nova banda do baterista Bacalhau, ex-Little Quail). Essa é uma das músicas mais maneiras do disco;

Deixa Eu Falar” é o tipo uma música que fala de poder falar o que quiser. Essa música é meio uma jam, quem cantou fui eu, o Gustavo Black Alien e o Alexandre, do Nativus. Foi legal, que eu não dei letra pra ninguém, cada um chegou e fez a sua parte. Ficou demais, cada parte ficou a cara do cara que fez. A parte do Gustavo é boa demais, ele é um dos melhores rappers que tem no Brasil, e já tem vários discípulos;

Boca de Lata” a gente gravou meio rap. Quem fez a música foi o Nuts e o Zé Gonzales. Eu roubei o povo do D2, roubei todo mundo;

A Mais Pedida” ficou linda, e quem cantou nela foi a Érika, do Penélope Charmosa. Ficou linda a bichinha;

Pom Pem” é uma música besta que fala de uma menina da cidade que foi pro mato e adorou. É a música mais doida do disco, com partes bem malucas;

Mulher de Fase” é a música mais bonita que a gente já fez. O nome dela era “Linda”, depois a gente mudou. A gente gravou até uns violinos. Eu vou ver se eu faço uma versão só com voz e violino pra mandar pra minha mãe. A bichinha sempre pede: “Meu filho, faça uma música que dê pra eu cantar”. E essa dá, vai fazer a véia chorar. Com violino então, até o meu pai vai chorar.

Fred: de fã a integrante do disco

Depois da mini tour que o Raimundos fez com o Helloween e o Iron Maiden no final do ano passado, o baterista Fred atendeu a Rock Press para um bate papo em uma livraria em Ipanema, zona sul do Rio. Fred falou sobre as mudanças no som e na temática da banda, sobre o mercado internacional e contou algumas curiosidades desses dez anos de carreira. Com vocês, o mais carioca dos Raimundos:

- Houve uma mudança de som e nas letras do “Lavô Tá Novo” para o “Lapadas”. Por que isto ocorreu?

Mudança eu não sei se rolou, eu acho que teve uma busca maior em termos de qualidade. Sempre teve aquele negócio que "ah, a banda é muito legal, só que tem um som nacional", e a gente não acreditava nisso. A gente achava que uma banda nacional poderia também fazer um som no mesmo nível, e talvez não tenha interpretado direito, soando de uma forma diferente. Além disso, foi um disco muito corrido, a gente só teve uma semana para fazer o “Lapadas do Povo”. O primeiro disco é mais baseado nos hardcores. O “Lavô Tá Novo” tinha um rock mais pesado, arrastado. O “Lapadas” tem hardcore e rock mais pesado. O forró a gente queria não deixar de lado, mas escolher uma outra forma de fazer isso.

- O “Lavô” foi o que vendeu mais, certo?

Foi, mas não tem explicação. Quando o pessoal da gravadora escutou a primeira música, “Tora Tora”, a feição das pessoas era, tipo "o que é que nós vamos fazer com esse CD?" Eles não sabiam por onde começar a trabalhar. Eles nunca tinham trabalhado um disco daquele. E foi o que mais vendeu. O número de vezes que as músicas tocavam nas rádios era impressionante. E o “Lapadas” perdeu um pouco disso, tocou bem menos em rádio. Mas isso é bom.

- Por que? Você acha que dá um tempo na mídia?

Dá. Teve uma vez que eu fiz uma entrevista para o Jornal da Tarde e saiu uma manchete enorme "O sucesso do Raimundos é prejudicial ao rock brasileiro." E embaixo, em letras menores, no sub-título, "segundo o baterista da banda Fred..." O editor foi sensacionalista nisso. O que eu quis dizer pra ele foi o seguinte: se o Raimundos viesse com o “Lavô tá Novo” e o “Lapadas do Povo” fosse a mesma coisa, poderia acontecer como tá acontecendo com muitas bandas. Tem uma hora que, se não surgir nada da novo, cansa. E se a gente usar a mesma fórmula, vai virar uma comédia, uma piada contada duas vezes.O “Lapadas” foi muito importante nesse ponto.

- Qual a relação que você vê entre a diminuição dos elementos de forró no “Lapadas” e o aumento de espaço lá fora?

Lá fora falam muito ainda de forró, apesar deles não conseguirem identificar direito. Mas quando você explica, o forró nada mais é que um repente. E o rap também é um repente. O “Lapadas” tem músicas que a gente não entende como não estouraram. Eu gosto de escutar música na rádio. Esse papo de "eu não gosto de sucesso" é mentira.

- Mas tem vezes que cansa ficar tocando em rádio 24 horas por dia. Não acha que tem risco de saturar o público?

Se for uma coisa de livre e espontânea vontade da rádio, não me incomoda. Agora, se eu souber que tem uma carga de grana por trás por esta música está estourando... Música tocando na rádio é sinal de mais show.

- Voltando à diminuição do forró no “Lapadas”, não acha que isto pode ter jogado a banda num lugar comum, tipo, só mais uma banda de rock?

Tem isso. Antes de sair de Brasília eu vivia falando pro resto da banda "vamos parar de falar nesse negócio de forrócore porque isso vai vir pro resto da vida", e não deu outra. A gente tinha um texto que dizia que, apesar de toda a mistura, o Raimundos não passava de uma boa banda de rock. O “Lapadas” sobreviveu como uma boa banda de rock. Eu gosto muito do primeiro e do segundo, mas considero o Lapadas o disco mais importante da gente até agora. Demos um ponto. O maior medo que a gente tem é chegar no décimo disco e aí ter que repensar toda a carreira. Isso a gente tá fazendo agora no terceiro.

- O “Lapadas” ter saído diferente foi espontâneo ou programado?

Tinha uma idéia de fazer alguma coisa mais pesadona. E de tanto a gente falar, acho que o público acreditou que ele era muito mais pesado do que ele é mesmo. A gente acreditou nisso também.

- E como está a aceitação dos discos no exterior?

Como artista estrangeiro que canta em outra língua, tem sido legal. Porque lá funciona bem diferente. Aqui existem os selos das gravadoras, que funcionam mais ou menos como uma gravadora mesmo. Lá, não. Lá a gente é do Bruto, que é da Draw, que é da Wishwesh, que é da Warner Bros. Um sub selo de um sub selo do selo da major. E isso funciona maravilhosamente bem.

- Os álbuns foram lançados na América Latina?

Não, porque a gente não tem ido com o acordo de gravadora com gravadora como foi o “Lavo”. Ele foi um acordo da Warner do Brasil com a Warner da Espanha. Depois que o “Lavo” foi lançado, as coisas começaram a acontecer e rolou um interesse desse selo Bruto em nos contratar.

Enquanto o “Lavô” pode ter sido encarado como um disco de rock em outra língua, mas com o diferencial de ter elementos de música brasileira, é possível que o “Lapadas” seja encarado como apenas mais um disco de rock cantado em língua estrangeira. Você acha que isso atrapalha ou ajuda?

Isso que você tá falando a gente escutou também lá. Eu não posso te responder direito porque a gente não entendeu direito como é o mercado de lá. Mas o “Lapadas” já vendeu mais que o “Lavo”. A verdade é que nosso grande interesse ainda é ter o nosso mercado aqui. Se rolar lá fora, tudo bem, mas eu quero é que role aqui.


- Bem, o Raimundos está fazendo 10 anos de carreira e eu gostaria de aproveitar o momento para saber algumas curiosidades sobre a banda. Qual foi o primeiro show do Raimundos que você viu?

Eu estava no primeiro show do Raimundos! Foi no reveillon na casa do Gabriel, do Little Quail. Eu tocava em duas bandas nessa época: Zona e Rock e os Billies. O meu pai sempre gostou muito dessa onda de ser baterista. E na época, eu falei pra ele que se existia uma banda em Brasília que iria fazer sucesso era o Raimundos. Aí ele falou: "Por que você não entra no Raimundos?" E eu respondi: "Pô, eu nem conheço os caras!"

- E qual foi o primeiro show que você tocou com eles?

Foi no Jogo de Cena no Teatro Garagem, em agosto de 92. Porque eu já fazia parte do Raimundos acústico, era eu no tambor, zabumba, banco... o que tivesse na hora. O Rodolfo no triângulo e na voz, o Celsão, que era do Filhos de Menguele, no baixo e o Digão no violão. Depois pintou esse negócio de voltar o Raimundos. Mas o Digão estava naquela de não querer tocar bateria porque tinha problemas de audição. A banda usava uma bateria eletrônica, e no show em Goiânia, a bateria eletrônica deu errado. Foi quando o Rodolfo e o Canisso falaram: "Vamos chamar o Fred. Desde que a gente parou que ele enche o saco pra gente voltar". Aí eles me chamaram.

- Qual foi o melhor e o pior show dos Raimundos?

Um show que eu não gostaria de ter feito foi o de Santos. O show foi maravilhoso, um dos melhores shows da gente. De repente, você chega no hotel e recebe uma notícia daquelas. Acabou o show numa boa mas as pessoas não conseguiram chegar em casa ilesas. Esse foi o melhor e foi o pior. Um show que a gente não vai esquecer nunca.

- Qual foi a coisa mais esquisita que aconteceu com vocês na estrada?

Teve uma vez que rolou uma tarde de autógrafos em Goiânia. Eram cinco mil pessoas dentro do shopping. Nesse dia, fui só eu e o Rodolfo. Foi o maior esquema: todo mundo de rádio, cada um num carro, muita segurança. Quando a gente tava chegando eu peguei o rádio e falei pro Rodolfo ir primeiro, porque vai todo mundo pra cima dele e eu vou direto pra loja. Quando o Rodolfo entrou, eu comecei a sair, mas eles sacaram que tava um em cada carro e foi todo mundo pra cima de mim. Os seguranças ficaram com medo que pessoas quebrassem a loja e mandaram que tirassem a gente o mais rápido possível. E pra gente sair armaram todo um cordão e fizeram um coque no meu cabelo. Nessa, romperam o cordão e arrancaram o coque, o cabelo... Quando a gente tava chegando perto do carro, o segurança destravou a porta, e as outras destravaram também. Parecia “A Volta dos Mortos-Vivos”! Pessoas entrando por todos os lugares do carro.

- Como você imagina o Raimundos daqui a 10 anos?

Eu imagino o Raimundos daqui a 10 anos, como um trabalho. Eu vou estar com os cabelos completamente brancos. Daqui a 10 anos o Canisso vai estar com 43, eu com 36, Digão com 38 e o Rodolfo com 36. Caramba, Rolling Stones total! Cara, se eu chegar aos 50 que nem os caras dos Stones tá beleza. Eu consigo imaginar a gente tocando daqui a 10 anos.

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