quarta-feira, 10 de junho de 2009

Revista SHOWBIZZ - Edição 149, 12/97


"Santos dá muita sorte à gente", vibrou o vocalista Rodolfo. Era madrugada do dia 8 de novembro e o Raimundos iniciava a turnê do álbum "Lapadas do Povo" no Clube de Regatas Santista. Horas depois, a cidade talismã do grupo viraria palco de horror. O púplico, estimado em 4 mil e 500 pessoas, se espremeu diante da única saída do local, resultando em pisoteamentos e na quebra dos corrimões laterais. Saldo: 8 mortos e mais de 50 feridos. Foi a maior tragédia da história de shows no Brasil. Ganha da lendária apresentação do Legião Urbana em Brasília e tem mais vítimas que shows do Ramones, Sepultura e Midnight Oil juntos.

O presidente do Regatas, Reinaldo Gomes Ferreira, colocou a culpa na platéia. E afirmou que havia quatro portas à disposição - depois confessou que só duas estavam abertas. Mas com certeza não foram os fãs do Raimundos que decoraram o cenário do horror.

O clube santista foi cuidadosamente preparado para sediar uma tragédia. Sua permissão para abrigar shows foi renovada de maneira irregular, haviam poucos seguranças e muita bebida à disposição. "Eram quatro pontos de vendas de bebidas. Dois dentro do ginásio e dois nas imediações, vendiam de guaraná a cerveja e capeta (preparada com vodca, leite condensado e guaraná em pó), revelou o delegado Cláudio Rossi, do 3º DP (Santos), que apura o caso.

A revista na entrada do ginásio foi quase inexistente. "Eles gritavam: Ingresso na mão! E mandavam a gente entrar", confessa o adolescente Fábio Farinella. A Rockstrote, produtora do evento, não contratou sequer um grupo forte de segurança para um acontecimento desse porte (fala-se em 10 homens para um público gigante e agitado).

A abertura do show ficou por conta do grupo baiano Catapulta. Eles entraram por volta das 23h30 e esquentaram a platéia para o Raimundos - que começaram a tocar à 1h30 da manhã. Canisso, Digão, Fred e Rodolfo afirmam que foi um dos melhores shows que eles deram na vida. A apresentação terminou às 2h50, com "Eu Quero Ver O Oco". Foi então que a tragédia se desenhou. O público se dirigiu à única saída disponível do local. A aglomeração deu espaço a um violento empurra-empurra. Quem tropeçava era pisoteado pela multidão. Para piorar, um fio elétrico localizado na entrada do ginásio se soltou e começou a dar choque no pessoal que saía. Sobreviventes descrevem a cena como "o movimento de uma onda". Houve quem desse mosh em cima do povo que se espremia, pensando se tratar de alguma brincadeira.

O número de pessoas sufocadas era tanto que os dois corrimões laterais cederam. "Acho que foi a salvação de muita gente. Senão haveria muito mais acidentados", aposta o delegado Rossi. Por outro lado, o corrimão selou o destino de outros adolescentes. "Eu vi uma menina cair de uma altura de 5 metros. O ferro do corrimão caiu em cima dela", relata Farinella.

Não havia equipe de socorro à disposição. "A imprensa chegou antes do salvamento", diz uma testemunha. Muitos jovens foram levados de camburão para os hospitais mais próximos. O Regatas parecia um campo de guerra. "Havia uma poça de tênis. Eu arregacei as mangas e tirei uma porção de gente da confusão. Quanto mais eu salvava, mais pessoas iam caindo da escadaria", lembra Farinella.

Os fãs do Raimundos que ficaram no local - e que em nenhum momento foram informados de uma saída alternativa - se desesperaram e tentaram arrombar as outras portas restantes com chutes. Só então foram abertos outros quatro portões, inclusive o reservado à saída de artistas. O grupo Raimundos soube do acidente ainda no Regatas. Digão sentou na escada e começou a chorar. "A gente chegou a ligar do hotel para o pronto socorro", emociona-se o guitarrista.

No dia 10, o grupo deu uma entrevista coletiva na sede da WEA em São Paulo. Visivelmente emocionados, eles cancelaram os 14 shows restantes da turnê. "Este ano não tem mais show do Raimundos. A gente esta consternado porque nos consideramos a continuação do público em cima do palco. Perdemos 7 irmãos", diz Rodolfo (a oitava vítima faleceu após a entrevista). Para Digão, a desgraça causou o mesmo impacto da perda do irmão mais velho, morto num desastre de moto.

Em cartas e e-mails enviados à redação de Showbizz, pessoas que estiveram no show do Raimundos em Santos eximem o grupo de qualquer culpa. O mesmo comportamento foi dotado pelas mães dos adolescentes - muitas delas perderam os filhos no local. O caso esta sendo apurado no 3º DP de Santos. Enquanto isso, os diretores do Clube de Regatas Santista preferem colocar a culpa no público, dizendo que foi "brincadeira inconsequente...".




Revista SHOWBIZZ - Edição 149, 12/97

3 comentários:

  1. uma das vitimas era minha prima e ninguem foi punido

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  2. uma das vitimas era irmão de um vizinho meu ...

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  3. a culpa é do clube, jamais da bandam qualquer pessoa que colocasse a culpa neles nao sabe da humildade e de como esses caras tem bom coraçao mesmo se passando 13 anos e as diferenças serem tantas

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