sábado, 24 de abril de 2010

Raimundos no Altas Horas - 24/04/2010!




Raimundos toca no Altas Horas com Tico Santa Cruz no vocal

Raimundos conquistou o Brasil com seu rock temperado com ritmos regionais. Na década de 90, a banda de Brasília estourou com sucessos como Selim, O Pão dNegritoa Minha Prima e Eu Quero Ver o Oco.

Mais de uma década passou e o Raimundos sofreu muitas mudanças. Idas e vindas aconteceram e hoje a banda é formada por Digão, Canisso, Caio Cunha, Marquim e Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas, que acompanha o grupo durante a turnê de 2010.

Apesar de estar mais experientes, o espírito rock’n’roll da banda segue o mesmo. Raimundos vai mostrar o peso de sua música no Altas Horas deste sábado, dia 24 de abril. Durante o programa, os músicos falaram sobre a participação do Tico Santa Cruz e tocaram Mulher de Fases e Eu Quero Ver o Oco.


terça-feira, 20 de abril de 2010

Raimundos, 10 anos de HC! - 1999




Dez anos de Hard Core e zoação

A idéia era fazer uma matéria grande sobre o aniversário de 10 anos do Raimundos, mas depois de muito correr atrás, acabamos encontrando o então vocalista Rodolfo saindo do estúdio, que nos entregou um faixa-a-faixa do quarto disco da banda, “Só No Forévis”. Hoje, mais que um verdadeiro dossiê Raimundos, a matéria, com oito páginas e repleta de boxes (aqui postados em seqüência) soa como um retrato daquele início do final dos anos 90. A entrevista com Fred foi feita pelo amigo Carlos Pamplona. Publicada na Rock Press número 18, de abril de 1999.

A década ainda não acabou, mas não é precipitada a constatação de que o rock brasileiro já tem seu maior representante nos anos 90: Raimundos. Gostando ou não do estilo e de suas influências, não há como negar que esses quatro candangos conseguiram a maior projeção dentro do cenário pop rock brasileiro, em um período nem sempre favorável para os artistas do gênero.

Começando como uma banda cover, a adição de letras típicas do folclore popular nordestino, e a opção pelo hardcore pesado, sem concessões, revelaram um estilo próprio e original dentro do mercado brasileiro, copiado (e na maioria das vezes distorcido) por dez entre dez bandas nos últimos anos. Parece que foi ontem, mas já se passaram dez anos desde que o Raimundos começou suas atividades, início esse simbolizado por um show em uma festa de reveillon.

E nesses dez anos muita coisa mudou na vida dos integrantes da banda. A bandinha cover das festinhas se transformou num sucesso de público e crítica, mesmo com todas inconveniências das letras, o peso do som, e a manutenção do jeito “peão” de ser.

A Rock Press correu atrás (você não imagina como) e foi flagrar a banda saindo do estúdio, onde arrancou do vocalista Rodolfo, em primeiríssima mão, e com exclusividade, todos os detalhes do próximo álbum, “Só No Forévis”. Falamos também com o baterista Fred, que deu uma geral na trajetória de uma década de hardcore e zoação. Já fazia algum tempo que a Rock Press pretendia fazer uma grande matéria com o Raimundos, e aproveitamos essa oportunidade para desvendar toda a história da banda, com detalhes, análises, e outras coisas que você, como de costume, só encontra aqui. Go ahead!

Anos 90: O rock nacional aprende a lição

A virada da década não havia sido muito generosa com o rock nacional. Passado o boom dos anos 80, boa parte das bandas já tinham se desfeito, e as consagradas ou repetiam fórmulas, ou partiam para caminhos que não agradavam aos fãs de sempre, e nem cativavam outros novos.

As gravadoras, por sua vez, destinavam cada vez menos investimentos para o rock, e apostavam em outras fatias de mercado (desaguando na pobreza musical desse fim de década), dando às bandas mais antigas um tratamento de mpb, e fechando os olhos para o rock Brasil dos anos 90. Estava claro que, nos anos 90, se alguma banda ou movimento quisesse se estabelecer no mercado, teria que ser por conta própria, tudo no esquema “do it yourself” que o punk rock consagrou pelo mundo afora. O sucesso internacional conquistado pelo Sepultura repercutia no Brasil com uma febre de bandas cantando em um inglês macarrônico, na esteira do thrash metal que se espalhava pelo mundo.

Em paralelo, a cena de Seattle era descoberta, e, além das camisas xadrez de flanela, espalhava a mensagem (imediatamente absorvida) de que qualquer lugar poderia ter sua própria cena de bandas novas, totalmente independente, e ganhar o mundo, fazendo ícones do mercado pop como Soundgarden, Pearl Jam, e, o maior de todos, Nirvana, do suicida Kurt Cobain. O Brasil não ficou de fora, aprendeu a lição e os festivais independentes se proliferaram: Junta Tribo em Campinas, BHRIF em Belo Horizonte, BIG em Curitiba, Abril Pro Rock em Recife, Superdemo e Expo Alternative no Rio, e tantos outros. Como no Terceiro Mundo tudo funciona diferente, a grande mídia e as gravadoras pouco (ou nada) se importaram, e poucas bandas se destacaram e conseguiram atingir um sucesso no mercado comparado ao das bandas da década passada.

O Raimundos foi uma delas. Fundamental para esse início de década foi a chegada da MTV no Brasil, em 1990, que cobriu toda essa cena, catapultando essas bandas para público local, e, em conseqüência, para o primeiro contato com as gravadoras, fato outrora atribuído às rádios locais.

De Brasília para o Brasil!

Estamos em Brasília, no ano de 1992. Quatro candangos acostumados a tocar covers de Ramones resolvem se assumir seriamente como Raimundos, uma mistura da banda predileta com música nordestina, referenciada pelo forrozeiro Zenilton, o preferido dos meninos. Mas esse foi só o ano do recomeço. A primeira vez que a banda se apresentou usando o nome Raimundos foi na passagem de 88 para 89, em uma festa na casa do amigo Gabriel Thomaz, guitarrista e vocalista do Little Quail (vide box). Rodolfo e Digão se conheciam desde 87, um tocava guitarra e o outro bateria, já fazendo covers do Ramones. Rodolfo convidou Canisso para assumir o baixo, mais pelo visual do cara, já que ele tocava guitarra. Onde houvesse uma festa, lá estava o Raimundos, e a casa, invariavelmente lotada.

Em 90, porém, cada um parte para resolver sua prioridades pessoais, deixando, meio que desanimados, o projeto da banda de lado. Nessa época Digão trocou a bateria pela guitarra, enquanto Rodolfo começou a cantar na banda Royal Straight Flesh. Só em 92 o baterista Fred, que acompanhava os shows do Raimundos como espectador, sugeriu a volta da banda com formação que se mantêm até hoje: Rodolfo, vocais, Digão, guitarra, Canisso, baixo, e Fred, bateria.

Em 92, os Raimundos haviam decidido voltar para uma apresentação em um bar em Goiânia, e outros shows foram rolando, até que a primeira demo foi gravada no ano seguinte, intitulada “Raimundos Demo-Tape”, com quatro músicas: "Nêga Jurema", "Marujo", "Palhas do Coqueiro" e "Sanidade".

E foi em 93 que se deslocaram para São Paulo e começou a distribuir sua demo para amigos, bandas, imprensa e afins. Um telefonema de Fred para a organização do Festival Junta Tribo garantiu, em cima da hora, a presença da banda na primeira edição do evento, tanto que o nome Raimundos não constava no cartaz e nem na programação distribuída à imprensa. Não que tenha sido essa apresentação a projetar o grupo, mas ela aumentou o bochicho que corria no meio. Uma banda de Brasília que misturava Ramones com forró, e com letras escrachadas, cheias de palavrões. Tal qual a avalanche de bandas que ia surgindo, uma nova geração de gravadoras, também independentes, precisavam dar conta de registrar esses novos valores, deixados à margem pela grande mídia. Uma delas, surgiu quando o jornalista e produtor musical Carlos Eduardo Miranda convenceu os Titãs a investirem em um selo para descobrir novas bandas. Ligado na cena, e ouvindo dúzias de fitas demo por dia, como repórter musical, Miranda tinha conhecimento do que estava rolando no novo underground brazuca, e sugeriu que o recém criado Banguela lançasse seu debut álbum com o Raimundos, cuja demo recebera de um colega de Brasília.

Os desafios eram muitos. Uma forma de trabalho diferente, com um selo independente, apesar de o esperto Miranda garantir a distribuição pela Warner, major que tem o Titãs no cast. Uma banda nova, de fora do eixo Rio/São Paulo, tocando um hardcore pesado, cantando em português, sim, mas com letras diferentes das demais, chupadas do folclore popular do Nordeste e carregadas de palavrões, com um bom gosto questionável. Quem iria tocar? Quem divulgaria esse novo trabalho? A resposta veio com a nova geração de adolescentes ligada no rock brasileiro. Os anos noventa haviam renovado o público de rock, e essa garotada queria mesmo é chutar o pau da barraca. E o Raimundos foi a trilha sonora que eles precisavam. Embalados pelo rótulo forrócore, que por si só já chamava a atenção, o primeiro álbum da banda, intitulado simplesmente “Raimundos”, chegou às lojas em maio de 94.

A essa altura, a banda já havia tocado no M2000 Summer Concerts, em Santos, no início do ano, ao lado de atrações internacionais, para um público de mais de 50 mil pessoas, além de ter tocado como banda de abertura para nomes consagrados como Camisa de Vênus, Ratos de Porão, e, é claro, Titãs. O Raimundos estava, digamos, na marca do pênalti. Escolhida como música de trabalho, “Nêga Jurema” ganhou uma versão em clip ainda independente, produzido na Universidade de Brasília, o que detonou uma execução maciça na MTV, mesmo antes do álbum ter sido lançado. O clip ao vivo de “Puteiro em João Pessoa”, música que abria o álbum com o indefectível clamor (“eu quero é rock!”) foi outra porrada na cara das FMs, que tiveram que tocar as músicas da banda, mesmo contendo versos como “ela pegou no meu p* pôs na boca e ficou de quatro”. Afora o péssimo gosto e a gratuidade da baixaria do grupo, “Puteiro Em João Pessoa” pegou também pelo lado hardcore, altamente convidativo para o pogo e a abertura de roda, a essa altura já não um monopólio dos punks, mas dominado por todo o tipo de playboys.

O variado público do Raimundos começava a se formar. A consagração da banda no entanto veio com a balada “Selim”, uma típica canção de corno, de autoria de outro amigo da banda, Titi, que narra a história de um adolescente que quer ser o banco da bicicleta de sua amada, só para estar mais perto dela. E isso numa letra sem nenhum palavrão, mas com citações à vagina, ânus, etc. Em agosto de 94, na participação da banda no Monsters of Rock brasileiro, no Pacaembu, “Selim” foi cantada em uníssono pelo público de heavy metal, que aguardava os shows de Suicidal Tendencies, Black Sabbath, Slayer e Kiss. “Selim” levou o álbum à marca das 120 mil cópias e deu ao Raimundos o status de banda grande no mercado brasileiro.

Raimundos”, o álbum, na verdade não tem em suas músicas nada de forró, mas uma mistura de hardcore com rock pesado, riffs à vezes metálicos e muito gás. O forró, além de uma clara jogada de marketing, está na temática das letras, muitas delas tiradas do folclore popular nordestino. E é aí que a coisa pega. Uma coletânea de mau gosto e grosseria percorre o álbum do início ao fim, sem duplo sentido, direto mesmo. “Pimenta malagueta quando entra na b* vai enganchar no pulmão” (“Minha Cunhada”), “Dessa vez vou ter mais sorte, vou soltar um peido bem forte” (“MM’s”) e “Pra socar minha p* dia e noite, noite e dia” (“Cintura Fina”) são só alguns exemplos. Ainda assim, a grande mídia não só recebeu bem esse primeiro trabalho da banda, como teve participação decisiva ao impulsionar a carreira do grupo. Estava liberada a baixaria no rock brasileiro dos anos 90 (vide box).

Com o CD na mão, os Raimundos caíram na estrada, fechando o ano de 94 com uma vendagem superior a 100 mil cópias (ultrapassaria as 200 mil). Além da grande exposição na mídia, a banda faz shows de abertura para vários artistas internacionais, entre eles Ramones (o baixista CJ chegou a tocar com eles) e Sepultura, em três datas da “Acid Chaos Tour”.


Lavado, novo e repetindo a dose!

O sucesso da estréia garante a gravação um contrato de três álbuns com a Warner e sela, sem maiores explicações, o fim do selo Banguela (vide box). A gravação do segundo álbum, já em 95, teve a produção do inglês Mark Dearnley, conhecido por trabalhos com Black Sabbath e AC/DC. Nada mal para uma banda que há pouco tempo só tocava covers. “Lavô Tá Novo” é lançado em novembro de 95, porém a música de trabalho, “Eu Quero Ver o Oco” já rolava direto nas rádios em todo o país, e seu belo clip, produzido na Califórnia, não parava de passar na MTV. Com muito mais peso, menos baixaria e mais produção e um “quê” de metal trazido pelo novo produtor, “Lavô Tá Novo” começa a colocar por terra o rótulo forrócore, a essa altura limitante para uma banda de grande porte. É um trabalho com músicas diferentes entre si, vão desde o hardcore cruzado com metal (“Eu Quero Ver o Oco”) até coisas mais lentas (“O Pão da Minha Prima”). As letras dão um certo tempo, em termos das habituais baixarias do álbum anterior, mas ainda há coisas lamentáveis como “Tora Tora” e “Esporrei Na Manivela”. Os destaques são “I Saw You Saying (That You Say That You Saw)”, uma bem humorada brincadeira com as bandas que cantam em inglês sem conhecer o idioma, e “Tá Querendo Desquitar (Ela Tá Dando)”, de autoria de Zenilton, essa, sim, com letra inteligente e de duplo sentido.

A escalação do Raimundos para a noite mais rock do Hollywood Rock, nos dois últimos finais de semana de janeiro de 96 foi a prova de fogo para o grupo. Ainda no início da tour do segundo álbum, foi a primeira vez que a banda pôde mostrar o novo trabalho, para um público grande e exigente, que tinha olhos mesmo era para a atração principal da noite, nada menos que a dupla Page & Plant, ou se preferirem, o Led Zeppelin. Sem se intimidar, a banda levou a Praça da Apoteose a baixo, com os primeiros acordes de “Eu Quero Ver o Oco”, a essa altura já um hit nacional, fato ocorrido também na semana anterior, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. O show foi decisivo para a carreira do grupo, que com um set curto, típico de festivais, entrou e saiu com o jogo ganho, com o público cantando todas músicas no pé da letra.

Nesse ano, os Raimundos tiveram seus álbuns lançados em Portugal e na Espanha, onde o grupo faz uma rápida tour com poucos shows e muitas entrevistas, para divulgação. Decorridos seis meses do seu lançamento, “Lavô Tá Novo” entupia a programação das rádios em todo país, e atingia a marca de 180 mil cópias vendidas (passaria das 400). Em agosto, o Raimundos voltou a ser escalado para o Monsters Of Rock, desta vez ao lado de Mercyful Fate, King Diamond, Helloween, Biohazard, Motörhead, Skid Row e Iron Maiden. A banda causou polêmica, pois tocou depois do Helloween, tendo inclusive maior tempo de show. A nação metálica nacional se voltou contra o grupo, que, alheio a isso e aos eternos problemas de equipamentos e passagens de som, típicos em festivais desse porte, voltou a sacudir o público com sua saraivada de sucessos de FM.

No final do ano, na esteira do reconhecido sucesso do grupo, foi lançada a caixa “Cesta Básica”, com tiragem limitada, incluindo um CD com covers e versões alternativas para algumas músicas, uma fita de vídeo com todos os clipes lançados até então, e imagens caseiras registradas nas tours pela esposa do baixista Canisso, e uma revista em quadrinhos feita pelo cartunista Angeli. Inicialmente com tiragem de 8 mil cópias, uma vez que se destinava (até pelo custo) só para colecionadores, o sucesso foi tanto que a gravadora prensou nova tiragem, dessa vez com 100 mil cópias, além de colocar o CD, em separado, no mercado. São ao todo dez músicas, sendo três covers (Ramones, Sex Pistols e Filhos de Menguele), quatro versões ao vivo, duas faixas inéditas e, de novo, “Puteiro em João Pessoa”, que ganhou finalmente um clip. Com a banda metida em infindáveis tours, e com dificuldade para trabalhar em cima de material novo, “Cesta Básica” serviu mesmo para dar um certo fôlego, marcando presença nas FMs. Sem falar, é claro, na estratégia de se lançar um produto altamente vendável na época de fim de ano, onde reina a febre dos presentes.

CONTINUA....