domingo, 27 de setembro de 2009

A Folha de São Paulo - 28/10/1994


Raimundos trazem hardcore ao Palace

A banda apresenta seu disco, que já vendeu 50 mil cópias desde maio, temperando som pesado com forró


Show: Raimundos, com abertura da banda Little Quail and The Mad Birds
Onde: Palace (av. dos Jamaris, 213, tel. 011/531-4900, Moema)
Quando: amanhã, às 22h, e domingo, às 20h
Quanto: R$ 15 (pista) e R$ 30 (camarote)


O rock pauleira temperado a forró dos Raimundos chega a São Paulo neste final de semana. A banda brasiliense se apresenta amanhã, às 22h, e depois, às 20h, no Palace. A Little Quail and The Mad Birds, também de Brasília, abre a noite com seu rock de garagem influenciado por punk rock e rockabilly. No show, os Raimundos tocam todas as músicas de seu disco, lançado em maio pelo selo Banguela, dos Titãs, incluindo os hits "Puteiro em João Pessoa", "Nêga Jurema" e "Selim". Tocam também as novas composições "Pitando no Kombão", "Esporrei na Manivela" e "Sereia da Pedreira", que entrarão no seu próximo trabalho.

O disco que está no mercado já vendeu por volta de 50 mil cópias, sendo que 85% em CD. Um resultado surpreendente para um conjunto estreante, ainda mais com o perfil underground dos Raimundos. Mas esse sucesso todo no circuito comercial, segundo eles, se deve ao fato de que o "mainstream" acordou para o estilo alternativo. "O tempero do regional ajuda muito também", diz o vocalista Rodolfo, 22. "Quando fizemos show no Nordeste teve gente que foi de uma capital para outra para nos ver." Raimundos é, então, um power trio com um pitada de triângulo em aqui, uma levada de baião ali e o hardcore em primeiro plano.

Forrocore e pauleira

Depois de passar algum tempo classificando didaticamente seu som como um "forrocore" (uma fusão de forró e hardcore), eles decidiram abandonar o estigma. "Esse termo acabou complicando porque criava uma expectativa, as pessoas ficavam achando que a gente iria usar temas de forró e misturar com rock, só que não é isso. O negócio é pauleira mesmo", diz Canisso, 28, baixista.

Utilizando a baixaria, tanto no teor das letras quanto na hora de definir o próprio tipo de som, Digão, 23, guitarrista, explica a tônica dos Raimundos: "A melodia é do rock pauleira, mas as letras, o cântico, é brasileiro." Na base das influências está o som mais pesado, como Dead Kennedys, Suicidal Tendences e Ramones. No tempero, o forró, o baião e o xaxado, com influências, entre outras, do sanfoneiro pernambucano Zenilton, que, segundo Digão, "é o cara mais punk do forró".

Palavrão educativo

O palavrão aparece de uma maneira natural nas nossas músicas", afirma Fred, 22, baterista. 'Não é nada que as pessoas não digam ou não saibam". Além disso, eles acreditam que existe uma função educativa em usar termos como ânus ou vagina, para que as pessoas que por ventura não saibam o que significam tomem conhecimento. É ao mesmo tempo uma ironia, um uso da linguagem chula frequente no coloquial e uma forma de tornar a baixaria educativa, resumem. Quanto ao fato de levar todo esse universo para o Palace, acham que "pode não se tratar propriamente de uma casa de rock, mas quem faz o show é a platéia."



Por Ana Beatriz Brisola.


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