sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Revista Transamerica - Novembro de 1997




PORRADA, PORRADA, PORRADA


É pedrada sem dó. Bofetada da boa. Lapadas do Povo, o novo álbum do RAIMUNDOS é isso. Variações sobre um autêntico Hard-Core, que traduzem bem o despojamento e a "objetividade" questionável das letras, compostas em sua maioria por todos os integrantes do grupo. O aviso entusiasmado vem do próprio vocalista Rodolfo, "É um som da pesada, O CD que a gente sempre quis fazer". Traduzindo...as batidas um pouco mais tranqüilas de músicas como "I Saw You Saying" e "O Pão da Minha Prima", ambas do segundo CD Lavô tá Novo, foram praticamente esquecidas nas 14 faixas do novo álbum.

Lapadas do Povo (Warner Music) é hard core, muita pauleira bem-feita. Além de assumir de vez a sonoridade do grupo, esse terceiro álbum com músicas inéditas trouxe novidades inesperadas pelos próprios RAIMUNDOS. Foi inteirinho gravado em Los Angeles, e quem assina a produção é ninguém mais que Mark Dearnley, que já trabalhou com Kiss, AC/CD, Black Sabbath, entre outros.

O motivo que os levou a gravar pela primeira vez fora do país não é tão supreendente em se tratando dos desligados meninos Raimundos. "Acabamos deixando tudo pra última da hora. E quando fomos procurar estúdios pra gravar, tanto em São Paulo como no Rio, não havia mais datas. Tivemos que buscar alternativas" disse Canisso. Quanto a escolha do produtor, o baixista disse que não tiveram muitas dúvidas. "Já tinhamos trabalhado com Mark no Lavô tá Novo, então sabiamos da sua experiência com bandas de som mais pesado. Aqui no Brasil também temos muitos bons produtores, mas a diferença é que lá fora eles se especializam mais". Mas foi o vocalista Rodolfo quem resumiu, em uma simples explicação, o espírito de trabalho do grupo. "O problema é que a gente dá muito trabalho. Não gostamos de ninguém metendo o bedelho no nosso trabalho. Mas com o Mark é diferente. Ele sabe definir os timbres, tem a manha de tirar um som legal. A gente acata o que ele fala", disse.

Para o Lapadas do Povo, quantidade e qualidade. O álbum foi gravado em dois estúdios, o Sound Castle e o Sound City, e ainda passou pela mixagem em um terceiro, no Pacifique Studios. Cerca de dois meses e meios gravando. E para garantir um profissionalismo de primeira, o Raimundos ainda ensaiaram no Mates Rehearsal Studios, onde frequentemente ensaiam bandas como Guns and Roses e Suicidal Tendencies. "Gravamos no estúdios em que o Mark estava costumado a trabalhar. Os estúdios são bons, têm máquinas atualizadas. Mas o legal é que tivemos contato com umas coisas interessantes, como o amplificador do Steve Vai e o fato de termos gravado no Sound City, o mesmo estúdio em que o Nirvana gravou o "Nevermind", contou Rodolfo.

E não é só o cuidado técnico que marca o Lapadas do Povo como uma excentricidade na feliz trajetória desses meninos brasilienses. Sem dúvida, este foi o álbum mais apressado que o Raimundos já produziu. "Andar na Pedra", música que faz referência as marcas que os pés "sofridos" deixam no chão, é o carro-chefe do novo CD. Motivo: foi a primeira a ficar pronta. "Só tinhamos quatro músicas prontas, com tudo, letra e melodia. As outras só tinham melodia, linha de vocal, mas faltavam as letras. Tivemos que meter bala", disse Canisso. Para se ter uma idéia "Bass Hell", a única música instrumental do disco, foi concebida, originalmente, como um rap com letra. Mas para os moços bonzinhos com caras de mau, valeu toda a correria. "Houve muita pressão, até podiamos ter curtido mais, mas foi legal esse pique todo, pois deu pra fazer uma coisa bastante espontânea", disse Canisso.

O Raimundos deve começar a mostra Lapadas do Povo ao vivo ainda esse ano. "Esperamos fazer as principais capitais. Turnê mesmo, de pegar estrada, só no começo do ano que vem", disse Rodolfo. E eles garantem: "Vamos fazer um show novo, bem produzido, um espetáculo completamente diferente", falou empolgado o vocalista Rodolfo.

E apesar da sonoridade que "lembra" a rápida batida do Sepultura, o integrantes nõa parecem ansiosos com a fama fora do país. "Em 1996 até tocamos em festival na Espanha, chamado Esparrago Rock. Tinha de tudo: Ska, música flamenca, internacional. Sentimos que para os europeus a lingua não é barreira, é o som mesmo que importa. Mas os americanos são menos flexíveis. E nossas letras são complicadas de traduzir. Por enquanto não temos essa pretensão", explicou Rodolfo.



Carla Hosoi




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