segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A popularidade dos Raimundos em prova




A popularidade dos Raimundos em prova

Banda brasiliense lança disco duplo ao vivo, um apanhado dos mais de dez anos de carreira, e se firma como o nome mais prestigiado do rock no país.

Não são só os ladrões que esperam ansiosamente pelo lançamento do MTV Ao Vivo Raimundos, o novo CD da banda brasiliense (no ano passado, 100 mil cópias do álbum Só no Forevis foram roubadas de um depósito antes de chegarem às lojas). Hoje, após cinco discos lançados e uma década de estrada, Rodolfo (vocal), Fred (bateria), Digão (guitarra) e Canisso (baixo) são os roqueiros mais populares do país e competem em pé de igualdade com estrelas do mercado sertanejo e da axé music.

"A nossa história está toda contada nesse disco. Quem ouvi-lo vai verificar que não mudamos muito ao longo de todos esses anos. Não somos uma banda pop, ou um grupo de forró, somos uma banda de rock pesado", afirma o baterista Fred, irritado com algumas críticas que o grupo recebeu no lançamento do CD "Só no Forevis". "As rádios, claro, decidiram trabalhar com canções de apelo popular mais forte, mas quem ouviu o disco inteiro sabe que a base do nosso trabalho tinha sido mantida".

De fato, os Raimundos mantiveram uma coerência musical ao logo desses anos, o que pode ser comprovado neste disco duplo ao vivo, que junta o repertório dos cinco álbuns de carreira da banda – até o irregular Lapadas do Povo, de 1997, considerado pelos próprios integrantes como um CD mal resolvido, está representado por sete canções. Entre velhos sucessos – Eu Quero Ver o Oco, Pão da Minha Prima, Selim e Puteiro em João Pessoa – e canções menos conhecidas, caso de Rapante, Deixa Eu Falar e Deixei de Fumar, surgem poucas novidades, como uma regravação hardcore de 20 Poucos Anos, de Fábio Júnior, e uma nova versão do Reggae do Manero.

Rock brasileiro em alta?

Segundo Canisso, o rock está voltando ter um espaço maior nas rádios e na imprensa de uma maneira geral, o que não acontecia desde os anos 80, com a explosão do BRock. "Posso citar um monte de grupos que têm aparecido com força nesses últimos anos, como a gente, o Charlie Brown Jr., o Rumbora etc". Já Fred tem uma visão mais pessimista: "Não concordo. Acho que continua tudo a mesma m..., com as rádios tocando só pagode e sertanejo. Só São Paulo, a única cidade que ainda mantém duas ou três rádios destinadas ao rock, que se salva um pouco. Uma prova disso é o sumiço de várias bandas legais, que despontaram há pouco tempo. Onde é que anda, por exemplo, o Sheik Tosado?"

Para o baterista, boa parte dos grupos revelados fora do eixo Rio-São Paulo não têm estrutura para sair de suas cidades e por isso desaparecem como num passe de mágica. "A gente levou uma vida dura no começo da carreira em São Paulo. O grupo todo dormia no chão da sala da casa do Miranda (produtor e na época dono do selo Banguela, o primeiro a contratar a banda) e vivíamos duros, sem dinheiro para comer. Lembro que a gente se revezava para ver quem ia pedir grana emprestada", conta Fred. "Por sorte, soubemos manter o pé no chão e fomos fazendo uma coisa de cada vez. Conheço um grupo de Brasília, cujo nome não vou citar, que chegou a São Paulo deslumbrado, hospedou-se num hotel cinco estrelas e passou dias e dias comendo camarão. Resultado: o disco não vendeu nada, não tocou nas rádios e hoje ninguém sabe quem eles são".

Tragédia em Santos

Apesar do sucesso mantido nos últimos anos, os Raimundos chegaram a passar por momentos difíceis. Em novembro de 1997, durante a turnê do álbum Lapadas do Povo, oito pessoas morreram e 67 ficaram feridas num show do grupo realizado em Santos. O ginásio não tinha condições de receber as seis mil pessoas, que pressionaram e derrubaram o corrimão da escadaria, provocando a queda de várias. "A gente sofre até hoje por causa disso. No Brasil, roqueiro brasileiro não tem só cara de bandido, é visto como bandido", diz Fred, acrescentando: "As pessoas não morreram aquele dia porque estavam assistindo ao um show de rock. Morreram por causa da falta de estrutura do ginásio, que tinha sido aprovado por alvará falso." "Ficamos sabendo um tempo depois que o Roberto Carlos tinha se apresentado no mesmo ginásio e que as velhinhas tinham quase morrido asfixiadas", conta Canisso.

Menos trágico, mas curioso, foi o roubo de 100 mil discos do grupo em maio do ano passado, durante o trabalho de distribuição do CD "Só no Forévis". "A gravadora (Warner) ficou desesperada, mas para a gente foi até bacana. Aparecemos nos jornais durante uma semana e em dois cadernos dos jornais, no de cultura e no policial. Ouvi dizer que esta semana o nosso disco vai chegar nas lojas dentro de uma carro-forte", brinca Canisso.

Rock in Rio

Com status de banda mais votada no site do Rock in Rio, à frente de grandes nomes internacionais, como Iron Maiden e Metallica, os Raimundos já acertaram a participação no festival, mas estão fazendo uma série de exigências para subir ao palco. "Estamos pedindo tudo a que temos direito. Cansamos desta palhaçada que ocorre com os grupos nacionais nos grandes festivais", diz o baixista.

"O mais ridículo é que grande parte desses artistas gringos que toca por aqui está em decadência no exterior. Chegam aqui, exigem mil coisas no camarim, tocam e vão embora felizes da vida. Você acha que eles estão preocupados com o social? Esse negócio de ‘Por um Mundo Melhor’ (o slogan do Rock in Rio) é uma grande piada, os gringos nem sabem onde fica o Rio de Janeiro", critica Fred.

Enquanto os Raimundos não testam sua popularidade no Rock in Rio, os paulistas podem curtir alguns shows de divulgação do álbum ao vivo, que serão realizados até o fim do ano. Na próxima sexta-feira, no Palco da Represa (Via Anchieta, km 28) o grupo se apresenta no Rock’n Bass Party, evento que reúne ainda a banda Rumbora e o DJs Patife, Koloral e Ricardo Guedes. No mesmo dia, às 22h30, a MTV exibe o programa MTV ao Vivo que deu origem ao disco.


Tom Cardoso, 24/10/2000


3 comentários: