sexta-feira, 24 de abril de 2009

Entrevista - Rodolfo Abrantes - 2002 - Parte 2

Na segunda parte da entrevista com Rodolfo Abrantes, ele fala sobre sua saída dos Raimundos e o que o inspirou a compor algumas faixas do novo álbum.

Entrevista concedida a Marcos Marcal, do Clique Music, no dia 11/03/2002.



Cliquemusic – Quando você anunciou sua saída dos Raimundos, já havia alguma parte desse material novo pronta?

Rodolfo – Não tinha nada, comecei a compor com o Bob um mês depois. A primeira música se chamou Estreito e foi composta lá na casa dele, meio na brincadeira. O que eu tinha em relação a planos é de que um dia eu voltaria a gravar, ainda mais porque era contratado da Warner e isso acabaria acontecendo mais cedo ou mais tarde. Minha intenção era ficar o ano passado descansando e só retomar as atividades em 2002. Acabou que rolou mais cedo, mas foi de uma forma natural, mais pela diversão mesmo. Todas as composições do CD foram feitas após a minha saída dos Raimundos.

Cliquemusic – E quais as que vocês caracterizaria como as mais emblemáticas do disco?

Rodolfo – As mais fortes são De Olhos Abertos, De uma Só Vez, Três Reis, Quem Dá Mais, Horário Nobre e Cegos de Jericó.

Cliquemusic – Você fez críticas aos meios de comunicação em Quem Dá Mais e Horário Nobre. O que te motivou a falar sobre isso?

Rodolfo – A mídia fez uma verdadeira bagunça na minha vida e deu para ver quais são as verdadeiras intenções de quem está ali no comando. Eles manipulam muito e não interessa se você está falando a sua verdade – se ela não for interessante, eles inventam uma que seja. Vi muita sujeira, muita má intenção, muita maldade, exagero... Então foi uma ocasião em que pude saber muito bem com quem eu estava lidando – de uma forma dolorosa, mas eu fiquei sabendo como realmente funcionava a mídia. E deu para ver que é uma coisa meio picareta e eu não curto muito. A divulgação desse disco vai se concentrar muito mais pela mídia impressa mesmo e pelos shows. Na TV tem muito pouca coisa que presta! Eu posso citar o Musikaos da TV Cultura, um programa muito maneiro. Tem o Clemente e o Gastão, dois caras que curtem som de verdade. É um programa que tem pensamento, rola a verdade ali. A banda toca e tem um publico de verdade, que agita à beça quando quer. Também se apresentam artistas plásticos, poetas, muita coisa legal... É um programa que vai contra tudo isso que existe de ruim na TV atualmente, essas apelações para o pessoal mostrar e tudo.

Cliquemusic – Você se associou a outras figuras do meio musical no rap Três Reis e nas duas músicas mencionadas logo acima você questiona a influência da mídia. Mas, por outro lado, um dos teus parceiros, o Xis, abriu uma concessão ao participar do reality show do SBT. Qual a sua opinião a esse respeito?

Rodolfo – Não julgo as pessoas, cada um faz suas próprias opções – e todo mundo tem liberdade para isso. Se fosse o meu caso, eu não iria para a Casa dos Artistas, mas é uma escolha minha. Não gosto de ser observado nem quando ando na rua, não gosto de gente me olhando e, conseqüentemente, não seria legal ficar por três meses em um lugar com câmeras me filmando. Conheço o Xis e a Syang, ela desde os tempos de Brasília, e o pessoal é muito gente boa.

Cliquemusic – Você está renegando o seu passado. Mas por outro lado, o teu trabalho com os Raimundos ainda te proporciona algum dinheiro que, com certeza, lhe deu meios para fazer esse seu novo projeto – mesmo renegando-o. Então gostaria de saber como você lida com essa contradição.

Rodolfo – Na boa, não estou renegando nada! Acho que só construímos nosso presente por causa do passado. Então não me arrependo de nada do que fiz e agradeço a Deus pela oportunidade de passar por tudo aquilo – tanto as coisas boas, quanto as ruins. É na adversidade que você mais aprende sobre a vida, mas se você olha para o futuro, então não pode ficar preso ao passado. Ele é importante e é legal você saber de onde você veio, mas não pode rolar uma corrente te prendendo ao passado. Saí dos Raimundos porque não queria mais tocar aquelas músicas, então não poderia cair na estrada e recorrer a esse repertório nos shows. É uma coisa que não vai existir! O passado é passado e não preciso ficar preso a ele. Comecei uma banda nova, então agora é tudo novo. Agora, quanto à questão financeira, acho que cada um possui seu estilo de vida e posso dizer que o meu é bem barato. Nunca fui gastador e ainda possuo as minhas economias. Não sou um cara rico, mas também não preciso de muito dinheiro para viver! Então estou tranqüilo e não preciso comercializar o meu trabalho agora porque a minha intenção não é viver cheio da grana. O Brasil é um país pobre e miserável e é meio vergonhoso você ser rico e tão ganancioso num país desses.

Cliquemusic – Em uma das canções do disco, Cegos de Jericó, você diz que deu adeus ao homem triste. Atualmente pode-se dizer que você é um cara feliz com essa "vida nova"?

Rodolfo – A felicidade plena é algo que ainda ninguém encontrou. Mas estou na busca e, com certeza, mais feliz do que eu era.

Cliquemusic – A primeira música que os Raimundos gravaram após sua saída foi Sanidade, que constava na demo de vocês. E é claro que podemos ler um texto de várias formas diferentes, mas algumas pessoas podem achar que se trata de uma crítica velada à sua mudança de atitude e sua saída da banda. Você vê a coisa um pouco por esse lado? Como você lida com essa primeira manifestação musical do pessoal desde a sua saída?

Rodolfo – (interrompendo) Com uma música minha, falando sobre mim! Acho que esse foi o melhor momento que Sanidade poderia ser lançada. Pela primeira vez, ela vai fazer algum sentido! Acho que a gravação ficou ótima e é a melhor música dos Raimundos em toda a carreira. O resultado ficou maravilhoso!

Cliquemusic – Você considera isso uma discreta alfinetada a suas atitudes?

Rodolfo – Mas é claro! O que você poderia esperar de quem não é seu amigo? É isso, não foi nenhuma novidade para mim. Além do mais, acho isso muito bom porque confirma quem são as pessoas. O problema não é você ter inimigos, é você não saber quem eles são. E isso é sempre bom porque você passa a não dar mais brechas. Um inimigo declarado fica lá no canto dele, enquanto você fica no seu. Agora um inimigo disfarçado senta na sua mesa, entra na sua casa e é muito pior você dar brecha para ele na sua vida. Então é muito bom que as coisas fiquem assim bem transparentes. Mas posso dizer que o Canisso é meu amigo, o cara mais maneiro que tem ali. A atitude não partiu dele, ainda temos contato!

Cliquemusic – O seu disco reflete bastante a sonoridade dos Raimundos, principalmente a da época do álbum Lapadas do Povo ouvir 30s (N.R.: terceiro álbum dos Raimundos e o de menor sucesso comercial entre os discos da banda, decorrente da mudança nos temas abordados pelo grupo). Seria uma forma de você se manter ligado ao passado?

Rodolfo – Acho que é uma coisa natural, eu compunha a maioria das músicas dos Raimundos e não mudei a minha forma de compor. Rolou um amadurecimento, isso é visível, mas não quis mudar de estilo. Meu estilo é esse e compunha assim desde a época dos Raimundos. É impossível não rolar nenhuma semelhança.

Cliquemusic – Você, de repente, estaria tocando esse repertório novo com os Raimundos, caso a banda aceitasse essa mudança de rumos? Ou uma coisa não tem nada a ver com a outra?

Rodolfo – Não, acho que a situação não rolou só por questões musicais. A amizade já estava meio fria mesmo e tudo isso que comentamos antes só confirma o que estava rolando. Acredito que a amizade verdadeira sobrevive a qualquer situação, é possível você ser amigo de uma pessoa que trabalha com você e, a partir do momento que não se trabalha mais juntos, é possível manter a amizade no dia seguinte. E se não é meu amigo hoje é porque nunca foi! Para mim, está ótimo!

Cliquemusic – Qual a sua opinião sobre o disco Éramos Quatro (N.R. primeiro lançamento dos Raimundos após a saída de Rodolfo)? Estava mais para caça-níqueis ou foi uma necessidade de os caras respirarem um pouco e elaborarem essa perda que foi a sua saída?

Rodolfo – Não sei, isso foi uma decisão deles! Não tenho opinião a esse respeito porque eu saí da banda.

Cliquemusic – Mas a sua imagem continuou associada à banda, a partir do momento em que você está ali, inclusive na própria capa do disco.

Rodolfo – O que eu posso fazer? Não tenho controle sobre isso! Estou em 90% do disco, mas não foi uma decisão minha. Só posso dizer que eu faria diferente, daria um tempo, faria músicas novas. Acho que a primeira impressão é a que fica, então acho que me lançaria de outra forma. De qualquer forma, eu não me vejo voltando para os Raimundos. Mesmo porque eu não quero, já que saí justamente para não cantar aquelas músicas.

Cliquemusic – Para terminar, logo após a sua saída dos Raimundos, surgiram boatos de que você teria se assustado com uma suposta maldição a rock stars brasileiros. Você deve saber do que se trata.

Rodolfo – (rindo) Ouvi cada coisa absurda! Uma das coisas mais loucas que ouvi foi de que eu estaria assustado com o que aconteceu com o Yuka e com o Herbert Vianna e que eu seria o próximo da lista. Isso é um absurdo! Imagina você como o protagonista de uma história dessas! O que você vai pensar da mídia? Só tem gente louca ali e não tenho nem o que comentar a respeito disso. Outra dessas histórias absurdas foi a de que eu teria sido exorcizado na Igreja Sara Nossa Terra de Camboriú. O mais legal de tudo é que não existe Sara Nossa Terra em Camboriú, isso que é o melhor de tudo! Tem gente muita louca nesse mundo e a internet é uma coisa que eu nunca gostei, nem tenho computador. É um meio que abre espaço para muita fraude, para muita mentira, você não tem como ter certeza de nada que está ali. Realmente, é um meio de comunicação rápido, global! Mas se você solta uma mentira ali, ninguém tem como provar que não é verdade. Vira uma bola de neve e eu estou fora desse povo, só tem gente louca aí!


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