domingo, 21 de fevereiro de 2010

Dynamite Online - 2001




O Raimundos está lançando o novo álbum com o irônico nome "Éramos 4" e fecha um ciclo de 13 anos de vida. A faixa inédita do disco, "Sanidade", já tem Digão no vocal. Os caras da banda aproveitam para falar tudo sobre a saída de Rodolfo e o que o futuro reserva pra eles.


Dynamite: Vocês ficaram um tempo sem saber o que fazer depois da saída do Rodolfo. A banda
até anunciou o fim. Como decidiram voltar?

Fred: É, da forma que ele saiu foi díficil saber se iríamos voltar algum dia. Mas acho que, por ironia do destino, tinha uma lacuna na história da gente que se chamava "Sanidade". E, a convite da gravadora, nós gravamos essa música que estava na primeira demo, que já era no vocal do Digão. A partir dessa gravação, a gente teve a última prova e certeza que nada disso ia morrer.

Canisso: A sucessão natural do Rodolfo seria o Digão. Ele sempre foi a segunda voz do Raimundos. É uma coisa que não causa estranheza. Quando a gente ouviu a música pela primeira vez na rádio, o locutor nem percebeu. É interessante isso, porque a voz dele encaixa perfeitamente

Dynamite: Mas, quando que vocês decidiram pela volta?

Digão: A gente estava bem cansado, nunca paramos, então decidimos tirar umas férias, esfriar a cabeça. Porque ninguém pensa de cabeça quente. Eu fiquei em Brasília um tempão, aí pensei, toquei um som numa festa, junto com o Bi Ribeiro e a Débora (do Detrito Federal) . E eu tocando guitarra e cantando, falando com o povo... Eu liguei pro Fred e falei: "- Caramba Fred, eu posso cantar!", e o Fred: "- Ah, não brinca, que novidade né?". Porque ele já sabia disso.

Dynamite: E quando o Rodolfo saiu e falou todas aquelas coisas? Vocês imaginam o por quê?

Canisso: Eu vou tentar explicar psicologicamente, a gente tenta matar dentro da gente mesmo o amor que sente por alguma coisa, quando você está se separando dela, se é uma mina, você ressalta os defeitos e esquece os pontos positivos.

Fred: Na verdade, todo mundo espera uma resposta nossa, mas acho que uma resposta em um momento desses poderia até soar como falta de educação ao público. Nossa melhor resposta é manter a coisa mais forte do que nunca.

Dynamite: E o fato dele ter dito que não havia diálogo entre vocês?

Fred: A gente malhava junto e conversava todos os dias! Eu prefiro falar do Raimundos novo, bola pra frente!

Digão: A gente estava em uma turnê que nunca parou e passava 4 dias da semana na estrda, se falava todo dia, então eu chegava em São Paulo e queria ver minha mulher e meus filhos.

Dynamite: Vocês tem falado com o Rodolfo?

Canisso: Eu falo esporadicamente.

Dynamite: Como que foi entrar no estúdio e gravar??

Digão: Todo mundo participou, foi muito em conjunto, Raimundos sempre foi até muito democrático, mas foi mais ainda.

Canisso: Aí deu um gás, a gente pensou na possibilidade de incluir mais algum músico para suprir as guitarras nas horas que fossem imprescindível, então entrou o Marquinho do Peter Perfeito (banda de Brasília), e o cara mostrou aquele interesse louco, no terceiro ensaio já estava tirando tudo, e a gente não ensaiava há muito tempo, como banda , a gente era praticamente de show, nem passagem de som fazia, tirar as músicas de novo, refazer um set list, ver as transições entra as músicas, foi muito tesão!!

Dynamite: Porque gravar a música "Desculpe, mas eu vou chorar", do Leandro e Leonardo?

Fred: Na verdade, foi de um projeto paralelo, o Cult 22, da Rádio Cultura de Brasília, naquela época, eles resolveram chamar todas bandas que estavam no cenário de rock local e a missão era escolher uma música que fosse quase que absurda estar no seu repertório original, a gente estava no estúdio e sem saber o queia tocar, todo mundo das outras bandas já tinha ensaiado...

Dynamite: "Nana Nenem" também foi assim, no improviso??

Fred: A gente nem ia gravar "Nana Nenem", era "Boi da Cara Preta", que não foi liberada, então, na hora rolou "Nana Nenem", e "20 e Poucos Anos" do Fábio Jr. também, a gente chegou no estúdio sem saber as notas direito.

Dynamite: Como foi ter que gravar Fábio Júnior???

Fred: Não é "ter que gravar", foi um convite, a gente tinha a opção de gravar e, ficando legal aprovar, ou deixar pra outra banda.

Dynamite: Muito se comenta que o Raimundos é a cara da MTV , vocês se vêem assim?

Fred: Sim, a gente cresceu junto com uma fase que a MTV cresceu muito, e num momento que Raimundos era improvável em uma rádio, quem acreditou e fez abanda chegar lá foi a MTV, eu não sei nem se o Raimundos é a cara da MTV, mas MTV mostrou a cara da banda.

Dynamite: O que você acha da MTV hoje em dia? Ela é muito criticada por não passar mais clipes...

Fred: A MTV é uma concessaõ externa, mesmo tendo cortado muito do clipe, você tem que lembrar isso, ela não é dona do seu nariz por completo, e mesmo assim, ela tem uma identidade muito pessoal dela, e em nenhum outro lugar do mundo você vê uma MTV como a daqui, eu sou protetor da MTV Brasil, podem falar o que quiser de mim, mas eu acho que sem ela seria muito diferente.

Dynamite: E Ramones?

Canisso: A gente começou a tocar por causa do Ramones, são as escalas mais primárias para você começar a tocar com alguém.

Digão: Sem modéstia, acho que Raimundos é a banda que mais tirou Ramones fiel.

Canisso: A noite de lançamento do nosso primeiro disco era a mesma do show do Ramones em São Paulo, a gente achou que não ia ter ninguém, pois o Ramones era mais cedo, então estava cheiaço. Em Novembro do mesmo ano, a gente abriu o show dos caras.

Digão: Em Camboriú, eles viram o nosso show no palco, e no camarim, eu fiquei conversando com o Joey, eu aqui (em pé, normal) e o Joey (sobre em cima da cadeira) : "I like the slow music", falando de "Selim".

Canisso: Quando o Marky ia tocar com o Dee Dee aqui no Brasil, o Dee Dee furou em cima da hora e chamaram a gente, ensaiamos com ele, se tivéssemos gravado teria dado álbum triplo, fizemos um set com as mais conhecidas, e em decorência da dissolução da banda, a gravadora decidiu lançar esse show.

Fred: Mas eu questionei: será que depois de 10 anos, não passamos de uma boa banda cover de Ramones? Por que a gente tinha que começar e terminar da mesma forma? A gente entrou em conversação e decidiu gravar Sanidade, foi a música que deu o tapa na cara e disse "não acabou não!".

Dynamite: Vocês tem que lançar um disco por ano??


Fred: Não. Existe uma coisa que é prevista, o mercado nacional é culpado de um disco por ano, qualquer banda que fica dois anos sem lanças, já começam a falar coisas.

Dynamite: E trabalho inédito? Vocês já estão pensando em alguma coisa?

Fred: Um dos motivos que jogaram na imprensa para o fim dos Raimundos era que a gente lançava um disco por ano, seria até perigoso fazer um disco no meio disso tudo, poderia ser intimista, rancoroso e tudo mais, e já que um dos motivos era gravar um disco a cada ano, porque a gente iria gravar agora?

Canisso: A gente tem que esperar o Digão estar mais experiente como vocalista.

Fred: Nesse momento não seria legal, agora queremos estrada!


Créditos a Luki Kessler.


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